Presidente do clube e empresário do atacante assinam contrato no início da madrugada e encerram novela que colocou torcida contra seu ídolo
O atacante Robinho vai vestir a camisa do Real Madrid. O Santos aceitou no início da madrugada de hoje a proposta de US$ 30 milhões (cerca de R$ 71 milhões) feita pelo clube espanhol.
O contrato já foi assinado, após reunião de cerca de duas horas em Santos, precedida por conversas telefônicas ao longo do dia.
Antes de sua apresentação no clube espanhol, marcada para o dia 26 de agosto, Robinho vai jogar pelo Santos. Ele já estará em campo amanhã, no clássico diante do Corinthians, sua vítima preferida, na Vila Belmiro.
Além do clássico, Robinho poderá fazer outros cinco jogos pelo Nacional -sua despedida seria contra o Figueirense, dia 21.
Para voltar atrás na sua vontade de receber US$ 50 milhões, valor da multa rescisória, o Santos alega um temor do caso parar na Justiça ou na Fifa e o clube receber menos dos US$ 30 milhões oferecidos pelo Real Madrid.
Robinho, 21, será o quarto brasileiro do clube, que já tinha Ronaldo e Roberto Carlos e que ontem fechou também com Júlio Baptista, ex-Sevilla.
O acordo a que chegaram os agentes de Robinho e o Santos põe fim a meses novela.
Ontem, o atacante completou um mês longe dos gramados. Sua última partida foi pela seleção: a final da Copa das Confederações, em 29 de junho, na qual o Brasil fez 4 a 1 na Argentina.
Logo após aquele jogo, o atacante santista manifestou abertamente, pela primeira vez, o desejo de sair do clube que o projetou e no qual conquistou, no papel de craque principal, dois títulos do Brasileiro (2002 e 2004).
O interesse do Real Madrid por Robinho teve início já no final do ano passado. Tanto o clube espanhol como o jogador davam como certo que Teixeira iria facilitar o negócio depois da eliminação santista na Libertadores. Por causa disso, o atleta e os dirigentes espanhóis evitaram comentar o assunto até a definição do time brasileiro no sul-americano.
Pelos planos iniciais dos cartolas do Real, o valor da negociação seria muito mais baixo. O clube pensava em gastar por volta de 12 milhões, ou metade do que vai investir para trazer o atacante, que se tornou um objeto de desejo ainda maior para o clube depois da chegada de Vanderlei Luxemburgo. Segundo Robinho, a presença de seu ex-treinador na Vila Belmiro foi um dos motivos, além do sequestro da mãe, para justificar sua vontade de jogar no Real.
Durante a novela, o filho de Florentino Pérez, o presidente do Real, veio ao Brasil ver um jogo de Robinho pela seleção, que pode vestir a camisa 10 caso Figo saia.
Agente e clube trocaram farpas antes de acordo
Antes de o acordo ser firmado, o Santos e os empresários de Robinho passaram o dia de ontem se alfinetando.
No início da tarde, o clube divulgou no seu site oficial que fora procurado pelo craque que estaria disposto a fazer uma proposta ao Santos para ganhar sua liberação para o Real Madrid.
Pela versão santista, Robinho prometeu defender o clube litorâneo até 31 de agosto, se o Santos aceitasse negociá-lo com o Real pelos US$ 30 milhões (R$ 71 milhões) já oferecidos.
Além disso, o clube alegou que Robinho exigiu compensação financeira de 40% sobre o valor pago pelo Real. Assim, Robinho embolsaria US$ 12 milhões, e o clube US$ 18 milhões.
Procurado à noite pela Folha, Wagner Ribeiro, agente de Robinho, negou parte da versão santista. “Foi o Santos quem nos procurou e não nós que fomos atrás.”
Em entrevista publicada ontem no jornal “A Tribuna”, de Santos, Pelé disse que “é melhor [o Santos] ficar com os US$ 30 milhões do que perder tudo.” O ex-jogador disse que também iria conversar com Marcelo Teixeira.
A venda do atacante para o Real Madrid foi oficialmente fixada em US$ 50 milhões, cabendo 60% desse valor (US$ 30 milhões) para o clube. O restante seria de Robinho, mas ele abriu mão para que o negócio fosse fechado. “Alcançamos valores que pretendíamos e contaremos com o atleta em mais alguns jogos”, disse o presidente santista, Marcelo Teixeira.
Cronologia da novela Robinho/ Real Madrid:
30.ago.04
Renovação de contrato. Em carteira, desde 2001, Robinho ganhava R$ 750 por mês, com multa rescisória de R$ 360 mil. Passa a receber R$ 207 mil, e multa vai a US$ 50 milhões.
6.nov.04
Mãe de Robinho é sequestrada, e jogador é afastado. Surge na mídia européia que o Real fez proposta por ele.
3.jan.05
Diário espanhol “As” anuncia proposta de US$ 18 milhões do Real Madrid. Marcelo Teixeira afirma que Robinho fica.
8.fev.05
Robinho confirma oferta. Três dias depois, Arrigo Sacchi, diretor do Real, diz que negócio está definido. Santos nega.
14.abr.05
No dia do aniversário do Santos, Teixeira anuncia que Robinho fica até a Copa-2006.
1º.jun.05
Robinho faz último jogo com a camisa do Santos. Vice-presidente do clube diz que “o Santos não precisa de dinheiro”.
3.jun.05
Santos entrega ao governo projeto para que Robinho fique no Brasil com ajuda estatal.
23.jun.05
Robinho diz não jogar mais pelo Santos. Real oferece 15 milhões e depois sobe para US$ 25 mi. Teixeira diz que há “falta de ética com o Santos.
1º.jul.05
Robinho volta ao Brasil e se nega a ir a treinos. Três dias depois, dá coletiva dizendo que já decidiu deixar o Santos.
21.jul.05
Real Madrid paga US$ 30 milhões por Robinho, mas CBF barra negociação de atleta.
Robinho triplica o salário e tem seguro na despedida
Robinho fará seus últimos jogos pelo Santos com o conforto de quem tem à espera um salário pouco superior a 2,5 milhões anuais (cerca de R$ 7,2 milhões). Esse é o valor que irá receber do Real Madrid em cada uma das cinco temporadas previstas no acordo com os espanhóis.
Seus vencimentos triplicarão: ganhará o correspondente a cerca de R$ 600 mil mensais. Atualmente embolsa R$ 207 mil por mês.
Já com o status de “galáctico” ele jogará protegido por um seguro de R$ 30 milhões, quantia paga por seu novo time aos santistas.
O Real, que arcará com as despesas do seguro, será reembolsado caso o atacante sofra uma grave contusão num dos seis jogos que deverá fazer antes de ingressar no novo clube. Ainda ontem os dirigentes espanhóis cuidavam para que o seguro já fosse válido no clássico com o Corinthians.
Uma das dificuldades de Robinho será esquecer, por enquanto, o que lhe aguarda em Madri. Ele terá direito a um apartamento e provavelmente um carro da Audi, patrocinadora da equipe.
O milionário salário será pago em duas vezes. O Real costuma fazer o pagamento de suas estrelas em apenas dois meses, janeiro e agosto.
Robinho poderá ter uma compensação por ter aberto mão dos 40% do valor da negociação a que tinha direito. Seus vencimentos serão maiores do que combinados anteriormente também para compensar o fato de ter desistido de receber US$ 15 milhões referentes a 30% do valor oficial da negociação -daria 10% a um de seus agentes, Wagner Ribeiro.
Para a transferência ser concretizada, o Santos exigiu que fosse oficializado o valor de US$ 50 milhões, com o jogador abrindo mão de sua parte. Assim o clube receberá R$ 30 milhões por meio da carta de crédito apresentada pelo Real quando a transferência for consumada.
No documento de venda está registrado que houve uma negociação, não um rompimento unilateral do contrato, evitando problemas na Fifa. Tudo porque a entidade veta transferências mediante o pagamento de multas com a temporada ainda em andamento.
A novela Robinho chegou ao fim nos primeiros minutos de ontem, após os contatos iniciais da sexta-feira apontarem ainda para um conflito na Fifa.
Porém Marcelo Teixeira ouviu de seus advogados que uma disputa dessas levaria pelo menos dois anos. Robinho também foi desaconselhado pelos advogados do Real a optar pelo litígio. Soube que deveria ser suspenso.
O presidente santista exigiu que ficasse claro no contrato que Robinho não poderia recorrer mais tarde à Justiça para receber 40% dos US$ 30 milhões. Um termo de quitação dado pelo atleta venceu essa desconfiança. Por volta das 22h30, Robinho foi chamado para assinar o documento.
Menos de duas horas depois, as diretorias dos dois clubes já tinham trocado os últimos faxes. Robinho então seguiu para a concentração santista, embora tema ser prejudicado hoje por ficar um mês sem jogar. Na maior parte desse período, ficou num hotel em São Paulo e bateu bola com amadores para treinar.
Na sexta-feira, as conversas telefônicas começaram às 14h. Participaram das tratativas pelo clube Marcelo Teixeira, Norberto Moreira da Silva, vice santista, Mário Mello, responsável pelo departamento jurídico, e o advogado Marcos Motta, contratado para apreciar o caso.
Eles mantiveram contatos com Juan e Marcel Figer, dois dos agentes do jogador, e com dois vices do Real Madrid.
Não é só Robinho que pensa nos rendimentos futuros. Teixeira fez questão que ficasse registrado no contrato o direito do clube de receber 5% dos valores das futuras transferências do atacante.
É um benefício assegurado pela Fifa aos clubes responsáveis pela formação de jogadores.
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