Corinthians 4 x 0 Santos
Data: 20/02/1994, domingo, 16h00.
Competição: Campeonato Paulista – 1º turno – 9ª rodada
Local: Estádio do Pacaembu, em São Paulo, SP.
Público: 31.188 pagantes
Renda: CR$ 53.940.600,00
Árbitro: Renato Marsiglia
Cartão vermelho: Índio (S).
Gols: Viola (37-1); Tupãzinho (04-2), Viola (15-2) e Viola (34-2).
CORINTHIANS
Wilson; Valdo, Henrique, Wilson Mano e Elias; Embu, Zé Elias, Tupãzinho e Marcelinho Carioca (Fabinho); Viola e Rivaldo (Marques).
Técnico: Carlos Alberto Silva
SANTOS
Edinho; Índio, Júnior, Maurício Copertino (Zé Renato) e Piá; Cerezo, Sérgio Santos, Dinho (Neizinho) e Cassinho; Serginho Fraldinha e Guga.
Técnico: Pepe
Corinthians goleia no segundo tempo
Depois de um primeiro tempo sofrível, o Corinthians se recuperou e goleou o Santos por 4 x 0, ontem à tarde no Pacaembu. Viola fez três gols e foi o melhor do Corinthians. No Santos, destacou-se o goleiro Edinho, que evitou três gols. O Santos, em crise, viajou ontem à noite para disputar amistosos no Japão.
O técnico Pepe, irritado com a atuação contra o Rio Branco na quarta-feira (0 x 2), mudou cinco jogadores, fazendo estrear o meia Cassinho. Para tentar o empate, escalou três volantes: Cerezo, Sérgio Santos e Dinho. No Corinthians, Carlos Alberto Silva pôs Valdo e Elias nas laterais e Embu como volante, ao lado de Zé Elias.
No primeiro tempo, quase não houve futebol. Os dois times erravam passes seguidos e quando conseguiam armar jogadas eram parados com faltas –nesse período foram 20 santistas e 17 corintianas. Os laterais das duas equipes eram quase nulos no apoio, mesmo o santista Índio.
O Santos teve só uma grande chance, aos 4min. Guga recebeu passe de cabeça de Flavinho na área, mas demorou para virar o corpo e Embu cortou.
O Corinthians também não criava. Com Rivaldo em tarde irreconhecível e Viola e Marcelinho bem marcados, o time só foi chutar a gol aos 25min, numa bola prensada entre o volante Embu e o goleiro Edinho, que saía do gol.
O primeiro gol só saiu de um lance irregular. Valdo levantou da direita, Marcelinho cabeceou para trás, Tupãzinho deu outro toque para Viola, que ajeitou com o braço esquerdo antes de “fuzilar” de dentro da pequena área. 1 x 0. O gol desnorteou o Santos e o Corinthians perdeu duas outras chances, com Tupãzinho e Marcelinho.
A dupla decidiu o jogo logo no início do segundo tempo. Marcelinho cobrou falta da direita, Tupãzinho se antecipou a Cerezo e cabeceou cruzado, vencendo Edinho, aos 4min. O Santos, que tinha o meia Zé Renato e o atacante Neizinho nos lugares do zagueiro Maurício e do volante Dinho, machucados, desabou. Em 45 minutos, a equipe não criou sequer uma real chance de gol, que ameaçasse a meta de Wilson –o titular Ronaldo estava machuacado e não jogou.
Sem marcação, o Corinthians tomou conta do jogo. Em contra-ataques puxados por Tupãzinho e Viola foi perdendo chances aos 5min (Marcelinho), 7min (Rivaldo) e 12min (Tupãzinho). Até que aos 15min, Tupãzinho, na meia-lua, lança Marcelinho. O jogador alcança a bola na linha de fundo, na pequena área, divide com Edinho e cruza rasteiro. Viola, de carrinho, faz 3 x 0. O placar só não se dilatou mais porque os corintianos se desinteressaram do jogo.
Aos 31min, Índio foi expulso apór ter feito falta dura em Rivaldo, que caiu rolou gritando “de dor” e no lance seguinte deu um pique de 30 metros, mostrando que estava bem. Três minutos depois, Viola penetrou pela meia-lua, tocou para Marques e recebeu livre na marca do pênalti e tocou na saída de Edinho. 4 x 0.
Até o final da partida, os corintianos perderam mais três chances, com Marques, Zé Elias e Embu.
Presidente do Santos pede paciência
Paciência. É isto que o presidente do Santos Miguel Kodja Neto pede ao torcedor. Acuado pelas perguntas sobre dispensas e contratações, Kodja Neto negou qualquer mudança na estrutura do clube. “Uma equipe que se preocupa em como pagar as contas de água e luz não pode pensar em contratar reforços”, desabafou o presidente, ontem no Pacaembu, após a derrota de 4 a 0 para o Corinthians.
“O torcedor não deve se sentir humilhado. Também sou torcedor e sei que está sendo duro. Mas também sou presidente do clube e não posso tomar atitudes baseados no desespero”, disse Kodja Neto.
Parte da equipe viajou ontem à noite para o Japão, onde fará três amistosos, compromisso agendado ainda pela antiga diretoria. Reflexo da situação santista: a delegação está composta por 16 jogadores e 14 dirigentes. Para os compromissos do Paulistão, três atletas considerados da equipe principal ficam para reforçar o time B. São Dinho, Macedo e Piá, que entram em campo quarta-feira contra a Ferroviária e dia 2 de março, contra o América.
Para a volta da excursão, prevista para o dia 4, as especulações são grandes em torno da permanência ou não de Pepe no comando da equipe. Ele vai ao Japão por estar sob contrato. Mas Carlos Alberto Torres e Geninho estariam sendo contatados.
Quanto aos jogadores, quase todos evitaram apontar qual o problema do clube. Guga, que saiu do campo correndo, disse apenas que “o Corinthians foi melhor e é só”. O goleiro Edinho, que levou quatro gols, mais uma vez foi eximido de culpa pela torcida, que o aplaudiu na saída. “Estou feliz em estar indo bem individualmente. Mas futebol é um jogo entre equipes e o que importa é o conjunto”, disse.
“Não sou técnico ou dirigente para dizer o que deve ser feito. Só sei que nós, jogadores, devemos pensar positivo e trabalhar para reverter a situação”, disse o filho de Pelé, que espera que a excursão ao Japão sirva como um “período de reflexão” para a equipe.
Edinho negou mais uma vez ser um jogador “iluminado” como o pai. Mas está claro que algo brilha: mesmo tendo saído mal nos lances do segundo e terceiro gols, foi apontado como um dos melhores em campos do lado santista. Seja por ser filho de Pelé, seja pelas grandes defesas que evitaram um vexame ainda maior.
Pepe fica emocionado
“O que é que eu posso dizer”, afirmou o técnico Pepe, segurando as lágrimas no vestiário santista, ontem. Emocionado, o ex-jogador, que atuou ao lado de Pelé no melhor time do Santos, não encontrou explicações para o fiasco de ontem.
“No primeiro tempo acho até que a equipe foi bem, apesar de ter levado um gol. No intervalo, o Dinho disse que não dava mais (problemas na musculatura da coxa esquerda). Coloquei o Zé Renato. Depois da preleção, o departamento médico vetou o Maurício Copertino. Aí, era tudo ou nada, chamei o Neizinho”, disse. Para Pepe, o setor defensivo “estava vazando” e por isso o time sofreu mais três.
O treinador espera, como o goleiro Edinho, que a viagem ao Japão sirva para a equipe esfriar a cabeça. Com o time em penúltimo lugar na tabela, muitos acreditam que ele não volte da excursão como técnico do Santos.
“Fizemos cinco alterações na equipe, mas deu para ver que falta muito para o time ser competitivo. Estamos apenas participando do Campeonato Paulista, não estamos brigando por título. Mas hoje, ficou claro que até participar está difícil. Precisamos de reforços”, afirmou.
Recordando seu tempo de jogador, Pepe disse que “está vivendo o outro lado da moeda”. “Estou sofrendo, como técnico, tudo o que fiz aos adversários quando jogador”, disse.
Viola imita gesto de Pelé
Mal viu a bola vencer o goleiro Edinho, aos 37min do primeiro tempo, Viola foi à linha de fundo pulou, deu um soco no ar e gritou o nome de quem imitava: “Pelé, Pelé, Pelé”.
No fim do jogo, o jogador explicou o lance: “Foi uma homenagem”. Viola negou que o jogo tivesse sabor de vingança –fez três gols no filho do jogador-símbolo de um período de dez anos em que o Corinthians passou sem vencer o Santos. O jogador está se tornando o carrasco do filho de Pelé. Nos aspirantes, em 93, já havia feito quatro.
O técnico Carlos Alberto Silva disse no fim do jogo que ainda não está satisfeito com o time. “Temos que ser mais rápidos e mais automáticos nas laterais”. Ele afirmou que as mudanças promovidas por Pepe foram a chave da goleada corintiana. “Quando vi o time dando chance, avancei mais um jogador. Ficamos com um jogador a mais no meio e dominamos o jogo.”
Silva comparou o time a uma borboleta. “Passamos por uma metamorfose muito grande. A goleada serve para que os jogadores confiem na nova filosofia.”
O que Silva pretende é transformar o Corinthians numa versão melhorada do Porto, time que levou ao título português. “O Corinthians tem tudo para ser uma equipe mais forte.”
No vestiário, o clima dos jogadores foi resumido por Marcelinho: “O jogo contra o Ituano foi muito mais difícil.”
Pacaembu tem ‘clássico dos opostos’ ( Em 20/02/1994 )
Santos e Corinthians fazem o “clássico dos opostos”, hoje, às 16h, no Pacaembu. Poucas vezes o clássico paulista mais antigo, disputado desde 1913, colocou estas duas equipes frente a frente em situações tão diferentes em um campeonato. Enquanto o Corinthians é o vice-líder, com 13 pontos, o Santos ocupa um discreto 13º lugar. Tantos números treze levam os torcedores mais supersticiosos a confiar em um bom resultado para seus times, que vêm de más atuações no campeonato.
O Corinthians depois da troca de técnico –Afrânio Riul por Carlos Alberto Silva– teve uma boa recuperação, conseguindo três vitórias seguidas. Mas o empate de sexta-feira frente ao Ituano demonstrou a fragilidade técnica da equipe, principalmente no setor defensivo, e a incompetência dos jogadores do ataque.
Para o técnico Carlos Alberto Silva, em um clássico a tendência é se ter uma liberdade maior para a realização das jogadas, devido a necessidade do adversário em atacar. “O importante é manter o nosso esquema de jogo todo o tempo”, afirmou o treinador corintiano.
No Santos, os “opostos” são mais evidentes. Na época de Pelé –atual diretor do clube– a equipe santista manteve um tabu de onze anos sem derrotas, no Campeonato Paulista, para o Corinthians. Hoje, o seu filho Edinho terá a responsabilidade de tentar evitar os gols e reverter a situação na tabela de classificação.
O técnico Pepe, que “sentiu vergonha” de comandar a equipe que perdeu para o Rio Branco na quinta-feira, invocou até seu passado de conquistas ao lado do mesmo Pelé para estimular seus comandados. “Os jogadores têm que se lembrar que no meu tempo eles ficaram uma década sem ganhar da gente”, disse o treinador se referindo aos corintianos. Com um esquema declaradamente defensivo, o gol santista só sairá de contra-ataques.
Guga, a grande esperança santista, divide com seus companheiros a responsabilidade de chutar ao gol. “Ninguém pode ter medo de finalizar”, disse o atacante.
Pelo lado corintiano, o ponta-esquerda Rivaldo não aceita o favoritismo de sua equipe. “O Ituano também estava mal e segurou o empate no Pacaembu”, disse.
O clássico de hoje tem vários desfalques em ambos os times. No lado do Corinthians, o goleiro Ronaldo, com torção nos dois tornozelos, e o meio-campo Ezequiel, suspenso, estão fora da partida. No Santos, a lista de ausências é bem maior: Piá, Macedo, Paulinho Kobayashi e Ranielli saem da equipe por deficiência técnica.
Esta é primeira partida entre as duas equipes em torneios de pontos corridos desde a edição de 1984, quando o Santos sagrou-se campeão, na última rodada, batendo o Corinthians.
Pepe usa rivalidade para motivar Santos
O Santos enfrenta hoje às 16h, no Pacaembu, dois adversários. Um é o Corinthians. O outro é a crise que assola a equipe da Vila Belmiro. Em sete jogos, o time perdeu três, empatou outros três e venceu apenas um. Para o técnico Pepe, o clássico de hoje “é preocupante”.
Insatisfeito com a produção do time, o treinador chegou a pensar em deixar o Santos. “Em certas partidas, senti vergonha em dizer que eu era o técnico que comandava aquele time. A última partida –derrota de 2 a 0 para o Rio Branco, na última quinta-feira– foi a pior partida do Santos sob a minha direção”, afirmou.
Por tudo isto, Pepe declara estar muito preocupado em enfrentar o Corinthians. Ele concorda que uma nova derrota pode instabilizar de vez o ambiente no clube.
A alternativa encontrada pelo treinador foi buscar na velha rivalidade entre os dois times o ingrediente necessário para motivar a equipe e superar a falta de entrosamento apresentada nas partidas anteriores.
“Faço parte de uma época em que tudo nos favorecia. Por mais de uma década, não perdemos deles. Isso, nossos jogadores não podem esquecer”, afirmou o técnico, recordando seu passado áureo, quando participou do melhor ataque da história do Santos (e do futebol): Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e ele, Pepe.
Para Zé Renato, que deve substituir Macedo, o time irá suplantar a má fase com garra. “O Pepe pediu que, contra o Corinthians, a equipe se supere”, disse.
Taticamente, a orientação passada aos jogadores demonstra que o Santos jogará recuado. “O fundamental é não tomarmos gols”, disse o zagueiro Júnior, acrescentando que o time crescerá durante a partida na medida em que conseguir anular o toque de bola do adversário. A partir daí, Júnior acredita que a vitória dependerá do rendimento do ataque santista. “Criamos as oportunidades de gols. Mas, na hora das finalizações, estamos sendo perseguidos por uma onda de azar muito grande”, diz.
O centroavante Guga segue a mesma linha de raciocínio. Para ele, uma vitória hoje devolve, definitivamente, a tranquilidade aos jogadores. “Dependemos muito dessa vitória. Se ela vier, os próximos jogos serão encarados com muito mais tranquilidade”, disse.
E é isso o que mais falta, na opinião de Guga, para os seus companheiros. Para ele, o nervosismo é a principal causa da não eficiência nas finalizações. “Temos muitos jogadores jovens. Eles estão sentindo a responsabilidade de jogar em uma equipe com histórico do Santos, ainda mais numa situação de crise como esta”, afirmou o atacante.
Guga divide responsabilidade
Artilheiro do Campeonato Brasileiro do ano passado, o centroavante Alexandre da Silva, mais conhecido como Guga, é a esperança de gols do Santos contra o Corinthians hoje à tarde. Aos 29 anos, casado com Jaqueline e pai de Taiene e Tainara, o atacante do Santos não se arrepende de ter faltado às provas do vestibular de veterinária, em 1984, para fazer um teste na Cabofriense, seu primeiro clube. “Estou realizado como jogador”, diz o carioca Guga, que só pretende sair do futebol paulista se tiver uma oferta da Europa.
Repórter – Você acha que dá para ser artilheiro mesmo sem atuar nos primeiros jogos?
Guga – Não é a primeira vez que isso acontece. Todo ano é assim: ou problemas de contrato ou com o técnico. No Brasileiro, comecei sem contrato, depois fiquei na reserva. Só deslanchei depois do Antônio Lopes sair.
Repórter – Como você gosta de jogar?
Guga – Meu forte é o cabeceio e a colocação na área. Eu sempre espero um erro do zagueiro, uma rebatida. Fico onde for maior a probabilidade de a bola ir parar.
Repórter – Por que o Santos está “derrapando” neste ano?
Guga – Porque o time é novo. A própria diretoria disse que não tem pretensão de ganhar o título, mas sim de montar uma equipe para daqui a dois anos. Por isso, a equipe está cheia de jogadores jovens e bons, mas que ainda sentem o peso da camisa.
Repórter – Muitos diziam que você fazia falta…
Guga – Não acho. Na minha opinião, os pontas e os jogadores do meio de campo também têm a obrigação de tentar fazer gols.
Repórter – Por que o time está perdendo tantos gols?
Guga – Pelo nervosismo na hora de finalizar. Como já disse, os jogadores são muito jovens e sentem a cobrança da torcida. Alguns estão até com medo de chutar. Estou tentando mostrar a eles que é preciso arriscar.
Repórter – Você acha que a diretoria deveria investir mais?
Guga – Sim. Existem vários jogadores de qualidade, mas isso não basta. É preciso ter jogadores de peso. Lembro que, nos primeiros jogos que fiz contra o Vasco, eu ficava olhando o Roberto Dinamite com o maior respeito, pois era meu ídolo. O novato sente esse tipo de inibição.
Repórter – Seu novo contrato vai até o final do Paulista. Você pretende continuar no Santos?
Guga – Jogar aqui é uma honra e a minha vontade é de ficar. Mas depende muito das condições financeiras, pois eu já tive problemas para essa última renovação. A diretoria espera que apareça um grande patrocinador até a metade do ano. Eu torço para que isso aconteça.
Repórter – Você acha que está na sua melhor fase?
Guga – Eu já tive uma grande fase no Equador e outra em Goiânia. Nas duas fui artilheiro. Mas esses três anos em São Paulo têm sido maravilhosos. Só troco pela Europa.
Repórter – Você ficou decepcionado por não ter sido convocado para a seleção?
Guga – Eu esperava uma oportunidade, nem que fosse no banco. Sei que, mesmo fazendo uma boa campanha nesse Campeonato Paulista, minhas chances de ir praticamente não existem. Mas não estou chateado e torço muito para o sucesso dos que forem, pois isso abre caminho para outros irem jogar na Europa.
Repórter – Qual o melhor modo para vencer o Corinthians?
Guga – É deixá-los sair para o jogo e procurar os contra-ataques, principalmente com o Macedo e o Kobayashi. E também torcer para que eu tenha a sorte de sempre contra o Corinthians.
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