São Paulo 2 x 2 Santos
Data: 18/06/2000, domingo, 17h00.
Competição: Campeonato Paulista – Final – Jogo de volta
Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo, SP.
Público: 74.916 pagantes
Renda: N/D
Árbitros: Alfredo Santos Loebeling e Ilson Honorato dos Santos.
Cartões amarelos: Raí e Beletti (SP); Rincón (S).
Cartão vermelho: Anderson Luiz (S).
Gols: Dodô (29-1), Rogério Ceni (39-1, de falta); Rincón (09-2, de pênalti) e Marcelinho Paraíba (23-2).
SÃO PAULO
Rogério Ceni; Beletti, Edmílson, Rogério Pinheiro e Fábio Aurélio; Maldonado, Vágner, Raí (Fabiano) e Marcelinho Paraíba; Evair (Sandro Hiroshi) e Edu (Carlos Miguel).
Técnico: Levir Culpi
SANTOS
Carlos Germano; Baiano, André Luis, Claudiomiro e Rubens Cardoso (Aílton); Anderson Luiz, Rincón, Valdo (Deivid) e Robert; Caio (Márcio Santos) e Dodô.
Técnico: Giba
Faltas decidem título para são-paulinos
Time pára adversário fazendo mais infrações e ainda marca seus dois gols aproveitando lances violentos do Santos
Para conquistar o título do Campeonato Paulista-2000, o São Paulo aproveitou com maestria um lance que não é permitido pelas regras mas é cada vez mais comum no futebol brasileiro. O time do Morumbi ganhou a competição em uma partida que as faltas tiveram importância vital para sua definição.
Primeiro, como havia acontecido nas duas partidas anteriores entre os times no Paulista que teve um vencedor, quem cometeu mais faltas teve o resultado que mais interessava. Segundo o Datafolha, o São Paulo cometeu 32 infrações ontem, contra 23 do Santos.
Depois, o time do técnico Levir Culpi foi mais eficiente na hora de aproveitar as chances criadas pela violência do adversário -marcou os seus dois gols em cobranças de faltas, com o goleiro Rogério e com Marcelinho.
Sem França, que foi vetado, o São Paulo perdeu sua principal força ofensiva -artilheiro do campeonato, ele havia marcado 42% de todos os gols da equipe antes da partida de ontem. Além disso, marcou dois dos três gols do seu time nos três confrontos anteriores contra o Santos. No seu lugar, o técnico Levir Culpi escalou Evair, que acabou tendo atuação apagada. O atacante, que foi substituído no segundo tempo, não teve nenhuma finalização na partida, contra uma média de 3,7 por partida de França.
Ontem, como aconteceu na primeira partida, o Santos começou o jogo desatento -com pouco mais de um minuto, o São Paulo já teve a primeira chance do jogo. Mas, logo depois desse lance, o Santos, que iniciou a partida sem Valdir, que só havia marcado um gol nas últimas 14 partidas do time no Paulista, começou a dominar o clássico.
Dodô, o substituto de Valdir, começou a partida se movimentando bem, participando da maior parte das jogadas ofensivas de sua equipe.
Depois da pressão inicial do Santos, o jogo, a partir dos 20 minutos, teve um ritmo muito mais lento, com o número de faltas aumentando. Os primeiros advertidos com o cartão amarelo pela arbitragem foram justamente dois dos quatro jogadores mais experientes em campo -o são-paulino Raí e o santista Rincón.
O primeiro gol do jogo aconteceu em um lance inusitado, aos 30min. O lateral Baiano cruzou da direita, Dodô cabeceou, e a bola só entrou porque desviou em Belletti. Foi o oitavo gol do atacante no Paulista-2000 -ele acabou a competição como principal artilheiro do Santos.
Depois de sofrer o gol, o São Paulo avançou seu meio-campo e começou a atacar mais, mas, sem França, não conseguir finalizar dentro da área do adversário.
Dessa forma, as maiores chances da equipe aconteciam nas cobranças de faltas, como no gol do empate, aos 40min, com o goleiro Rogério, que marcou o seu terceiro gol no Paulista-2000 -apenas um a menos que o atacante Caio, que jogou as 20 partidas do Santos na competição.
No segundo tempo, que começou sem alterações, o Santos, mesmo precisando de pelo menos mais dois gols para ganhar o título, foi pressionado pelo São Paulo, que antes de ontem só havia perdido uma vez no Estadual por dois gols de diferença.
Logo, porém, Rincón, que junto com Robert armava praticamente todas as jogadas santistas, colocou seu time em vantagem aos 10min, em uma cobrança de um pênalti que ele mesmo sofreu.
Com o título ameaçado, Levir Culpi mudou o time e colocou em campo Carlos Miguel, que estava afastado da equipe titular desde o início da competição. Mesmo fora de forma e acima do peso, o meia teve boa participação -recebeu a bola 13 vezes nos 29 minutos que jogou.
Com o tempo passando e sem conseguir fazer o terceiro gol, o Santos começou a cometer faltas violentas, principalmente com Anderson e Baiano.
Aos 24min, com Marcelinho, o São Paulo aproveitou mais uma cobrança de falta para empatar a partida novamente.
Aos 31min, depois de falta violenta em Carlos Miguel, o volante Anderson, como aconteceu no primeiro jogo, acabou expulso.
A partir desse momento, o São Paulo teve várias chances para fazer o gol da vitória, mas, principalmente com Hiroshi, não teve eficiência nas finalizações.
Santos afirma ter ‘caído em pé’ na decisão
Para equipe do técnico Giba, perdedor jogou melhor, mas nova expulsão de Anderson prejudicou reação no final
Perder o campeonato jogando de igual para igual -em muitos momentos melhor- do que o adversário na final deu ao Santos a sensação de ter caído de pé, mas, ao mesmo tempo, aumentou a tristeza dos vice-campeões.
“É mais doloroso perder desse jeito. Fizemos uma grande partida, marcando o gol sempre na frente deles. Foram 80 minutos quase perfeitos”, afirmou o atacante Caio, em referência ao período em que o time esteve completo em campo.
A expulsão do volante Anderson, aos 30min do segundo tempo, foi, segundo os santistas, o motivo mais palpável da perda do título. “O Santos foi melhor o tempo todo. O que determinou o resultado foi a expulsão. A partir daí não pude mais mexer no time”, queixou-se o técnico Giba.
Ele contou que pretendia colocar em campo, nos minutos finais da partida, o atacante Gauchinho, mas foi impedido pelo cartão vermelho de Anderson, pois se viu obrigado a reforçar a marcação, sacando o atacante Caio para colocar o zagueiro Márcio Santos.
“Ia colocar o Gauchinho para sufocá-los no fim do jogo, mas tive essa possibilidade anulada.”
Visivelmente chateado, Anderson, que já fora expulso na primeira final e só jogou ontem porque teve a suspensão convertida em multa, deixou o Morumbi sem dar entrevistas.
Giba, que assumiu a equipe no início de maio, em substituição a Carlos Alberto Silva e fez ontem o seu décimo jogo à frente do Santos, se disse “orgulhoso” do desempenho de seus atletas.
“Peguei uma equipe quase desclassificada, e eles mostraram reação. Saímos de cabeça erguida. Isso mostra que o trabalho tem sido bem feito, coerente e inteligente”, completou o técnico, cujas declarações vêm chamando a atenção pelo tom imodesto.
Para Carlos Germano, o modo como o Santos atuou fez com que o time não tenha “motivo de se envergonhar de nada”.
Outra queixa muito ouvida no vestiário santista foi em relação à forma como o São Paulo fez os gols. “O Giba já tinha nos alertado no intervalo para o perigo das faltas, mas nos descuidamos disso”, declarou Robert. O meia disse que preferia “jogar feio e ser campeão a jogar melhor e ser vice”.
Já Dodô avaliou que “faltou tranquilidade para evitar fazer faltas na entrada da área”.
Os santistas afirmaram não temer que a perda do título reflita no ânimo do time para o jogo de quarta-feira, contra o Flamengo, pela Copa do Brasil. “Não vai nos abater, pelo contrário. Vamos com tudo para cima do Flamengo”, disse Robert.
Afastado, Valdir deve deixar equipe
O atacante Valdir, que era titular do Santos até o primeiro jogo da final, foi afastado pelo técnico Giba, não foi nem relacionado para a reserva e causou um mal-estar no elenco santista. Giba preferiu colocar no banco Gauchinho, artilheiro do Juventus na Copa São Paulo de juniores.
Visivelmente irritado, Valdir disse ter estranhado seu corte da partida. “Foi uma opção do treinador. Ele resolveu, e tive que acatar. Mas é estranho. Nada melhor que o tempo para dizer se ele acertou ou não”, disse o jogador, ainda antes da decisão. “Não posso ficar satisfeito. O dia em que eu ficar, tenho que parar de jogar.”
Giba justificou sua atitude: “O Gauchinho é bom nas bolas altas, por isso optei por ele. Acho normal o Valdir achar estranho, mas foi o que achei que seria melhor para a equipe”.
Gauchinho se disse surpreso com notícia. “Achava que eu ia ser cortado.” Alguns titulares, como Robert, também se mostraram admirados com a decisão de Giba.
Com a permanência do treinador até o Campeonato Brasileiro, garantia da direção santista, a situação de Valdir se complica. Vivendo má fase -fez apenas um gol nos últimos 18 jogos-, o ex-atacante do São Paulo pode até ser negociado pela diretoria.
Valdir, que tem contrato até 2002, disse porém que quer permanecer. “Estou com a consciência tranquila e quero cumprir meu contrato.”
Valdir foi contratado pelo Santos no início do ano, no pacote de R$ 20 milhões que a equipe investiu para o Paulista-2000. Por seu passe, o Santos pagou R$ 5,5 milhões ao Atlético-MG.
A aposta de Giba de colocar Dodô começando a decisão de ontem mostrou-se correta. Bom cabeceador, o atacante fez o primeiro gol santista na partida.
O atacante foi um dos principais responsáveis pela chegada da equipe à decisão do Estadual, uma vez que marcou o gol que classificou o Santos, nas semifinais com o Palmeiras, aos 45min do segundo tempo.
O jogador é outro que pode deixar a Vila Belmiro no segundo semestre. O atacante, que foi comprado do São Paulo por US$ 5 milhões, disse que quer defender uma equipe européia.
“Festa do título” provoca crise na diretoria do Santos
A divulgação antecipada, pela Diretoria Social do Santos, da festa pelo título paulista que não veio, abriu uma crise na cúpula do clube nos momentos que antecederam a decisão de ontem.
A nota com os detalhes da festa foi divulgada à revelia da presidência do Santos. Afinal, o próprio presidente do clube, Marcelo Teixeira, criticou a forma como a notícia chegou ao conhecimento público.
Na última sexta-feira, o Departamento de Comunicação do Santos distribuiu a nota para a imprensa.
Teixeira disse que a festa tinha que ser planejada por uma exigência da Prefeitura de Santos, mas se irritou com o fato de o próprio clube ter se encarregado da divulgação da mesma.
Segundo o dirigente, a publicação, pelo Diário Oficial do município, da concessão de alvará para interdição de algumas ruas e espaços público já era suficiente para cumprir a formalidade.
“Ele (Teixeira) não gostou porque não sabia, mas a lei municipal exige a divulgação desse tipo de evento com pelo menos 48 horas de antecedência”, disse ontem o diretor social do Santos, Alberto Francisco de Oliveira Júnior, o Alemão, responsável pela organização e divulgação da “festa do título”.
“A única coisa que fizemos foi informar a imprensa”, disse Alemão, que na última sexta atribuíra a divulgação à “certeza” do título.
Alguns jogadores do Santos, como Caio e Rincón, lamentaram o episódio. Outros, como Carlos Germano e Anderson, disseram que a nota era uma reação à informação recebida pelos santistas de que o São Paulo já teria convidado o presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah, para a festa do rival.
Pedrada
O ônibus da delegação do Santos, o Baleia 2, foi apedrejado ontem à tarde, na chegada ao Morumbi.
A polícia prendeu o são-paulino Valnei Batista de Deus, 22, apontado como o responsável pela ação, que causou rachaduras no pára-brisa do veículo.
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