Jogos inesquecíveis
Palmeiras abre 2 a 0, Euller “pesca o Peixe” e sofre virada histórica em 21 minutos.
Palmeiras 2 x 3 Santos
Data: 04/06/2000, domingo, 11h00.
Competição: Campeonato Paulista – Semifinal – Jogo de volta
Local: Estádio do Morumbi, em São Paulo, SP.
Público e renda: Não divulgados
Árbitros: Paulo Cesar de Oliveira e Ilson Honorato dos Santos
Cartões amarelos: Argel e Asprilla (P); Anderson, Caio e Claudiomiro (S).
Gols: Argel (32-1); Euller (08-2), Eduardo Marques (24-2), Anderson (33-2) e Dodô (45-2).
PALMEIRAS
Marcos; Neném, Argel, Roque Júnior e Júnior; Rogério (Taddei), Galeano, Fernando e Pena; Euller (Tiago) e Asprilla (Marcelo Ramos).
Técnico: Luiz Felipe Scolari
SANTOS
Fábio Costa; Baiano (Eduardo Marques), André Luis, Claudiomiro e Rubens Cardoso; Preto, Anderson, Robert e Valdo; Valdir (Dodô) e Caio (Deivid).
Técnico: Giba
Giba mexe certo no time e elimina “algoz”
Técnico põe Eduardo Marques e Dodô no segundo tempo, time vira placar, e Palmeiras de Scolari fica fora da final
O técnico Giba foi apontado, por torcedores e jogadores, como o principal responsável pela virada histórica de ontem, que conduziu o Santos a uma decisão de Paulista após 16 anos. O ex-lateral-direito corintiano foi rejeitado pelo Palmeiras em 98, quando o cargo de técnico dos juniores do clube ficou vago. À época indicado pelo diretor de futebol Sebastião Lapola, Giba foi vetado pelo presidente Mustafá Contursi e pelo técnico Luiz Felipe Scolari, que sugeriu o nome de dois amigos seus do Rio Grande do Sul para a função.
No segundo tempo, ainda quando o Palmeiras vencia, Giba tirou o lateral-direito Baiano e colocou em campo Eduardo Marques. Depois, substituiu o apagado Valdir por Dodô. Os dois jogadores que entraram fizeram gols.
“O Giba é 80% do time”, afirmou o atacante Caio, que acabou sacado também. O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, tem a mesma opinião. “Ele tem uma parcela grande de importância (na conquista da vaga)”, declarou o dirigente. O técnico dedicou a vitória aos jogadores. “Eles são fora-de-série, merecem a classificação. Não foi sorte, foi trabalho”, disse Giba.
Sem Rincón, que defendeu a Colômbia nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002, o Santos começou a partida nervoso. O time errava passes bobos e permitia que o Palmeiras tocasse a bola com liberdade.
O time do Parque Antarctica, mesmo com a vantagem do empate, partiu para o ataque desde o início. Logo a 1min, teve sua primeira chance, em chute do atacante Asprilla, a maior surpresa na escalação de Scolari.
Outra surpresa foi a não-utilização de Júnior na meia, como havia anunciado o treinador na semana passada. Sem Alex e César Sampaio, ambos com a seleção brasileira no Peru, Scolari preferiu compactar o meio-campo, recuando Pena para jogar ao lado de Rogério, Galeano e Fernando.
O Palmeiras continuava melhor e perdeu oportunidade aos 23min, em sua jogada mais típica, o “chuveirinho” para a área. Neném bateu escanteio, e o zagueiro Argel subiu livre para cabecear. O goleiro Fábio Costa, que substituía Carlos Germano, fez difícil defesa.
Cinco minutos depois, os santistas reclamaram pênalti em lance do zagueiro Roque Júnior sobre Caio. O atacante acabou levando cartão amarelo.
Aos 32min, Caio perdeu excelente chance. O atacante recebeu bom passe de Valdir, dominou a bola livre dentro da área, mas bateu fraco, à esquerda de Marcos.
O gol do Palmeiras aconteceu um minuto depois. Neném bateu falta pela direita e encontrou Argel, novamente livre, para cabecear. O zagueiro palmeirense desviou com força e não deu chance ao goleiro Fábio Costa.
Em desvantagem no placar, o Santos passou a errar ainda mais. No fim do primeiro tempo, os santistas perderam mais uma grande oportunidade de empatar. Aos 44min, Robert tocou a bola para Valdir, colocando-o na cara do gol. Sem marcação, o jogador bateu fraco, nas mãos de Marcos.
“Não está dando nada certo. Só isso”, resumiu o lateral Baiano, ao fim da primeira etapa.
O Santos voltou mais aceso no segundo tempo, mas, em um lance infantil do goleiro Fábio Costa, aos 8min, o Palmeiras ampliou. Após cruzamento, o goleiro saiu errado e avançou até perto da linha da grande área. Pena foi mais rápido, dominou a bola e recuou para Rogério, que cruzou de primeira para a área. Euller, sem marcação, só desviou para o gol vazio. Na comemoração, provocou os rivais, o que causou revolta nos santistas.
Aos 24min, o Santos começou a reagir. Eduardo Marques arriscou de fora da área e acertou o ângulo de Marcos, diminuindo o placar para 2 a 1.
Com o gol, o Santos passou a pressionar. O volante Ânderson, de cabeça, empatou aos 33min, após cobrança de escanteio, fazendo seu primeiro gol com a camisa do Santos.
Sentindo o cansaço pela maratona de jogos, o Palmeiras não conseguia conter a pressão do adversário. Para reforçar a marcação, Scolari colocou em campo Taddei e Tiago. Recuado, o Palmeiras sucumbiu.
Aos 45min, após cruzamento da direita, o atacante Dodô virou. Os palmeirenses ainda reclamaram de uma falta de Claudiomiro sobre Marcos no lance, mas o árbitro confirmou o gol que deu a classificação ao Santos. “Eu faço meu trabalho quieto. Entrei e, graças a Deus, fiz o gol. Mas espero ter uma nova chance nos próximos jogos”, afirmou Dodô.
Santistas viam partida perdida
Até os 24min do segundo tempo da partida de ontem, quando o Palmeiras ainda vencia por 2 a 0, quase ninguém no Morumbi acreditava que o Santos seria capaz de fazer três gols e se classificar para a final do Paulista.
Pela atitude em campo, nem mesmo os jogadores santistas.
Quando Eduardo Marques marcou o primeiro gol de sua equipe, nenhum jogador do Santos foi buscar a bola nas redes do goleiro Marcos. Eles voltaram para a sua metade do campo em ritmo de cooper, como se tivessem feito apenas um “gol de honra”.
“É verdade. Naquele momento eu falei: vamos buscar a bola. Mas cada jogador tem uma reação”, disse o volante Ânderson.
“Na hora (do primeiro gol), foi aquele alívio. Só depois passamos a acreditar e dizer: vamos, que ainda dá”, disse o atacante Caio, do lado de fora do vestiário santista, onde se aglomeravam cerca de cem pessoas, entre jornalistas, torcedores e diretores do clube.
Os jogadores do Santos criticaram a comemoração do atacante adversário Euller, que, ao marcar o segundo gol, fingiu fisgar um peixe com uma vara, em alusão ao símbolo do time rival. “Ele mexeu com quem estava quieto”, reclamou Claudiomiro.
“Eu não vi ele fazer isso, mas no vestiário o pessoal comentou. Foi falta de respeito”, disse Caio.
O zagueiro rival Argel foi ao vestiário do Santos entregar uma camisa a Claudiomiro. “Eu tinha prometido antes do jogo”, disse. Argel foi recebido com respeito e sem provocações.
Vaga vira título para torcedores
Sem ganhar um título de Campeonato Paulista há 16 anos, os torcedores do Santos comemoraram a classificação para a final da competição como se fosse a conquista antecipada do título.
Cerca de 5.000 pessoas, segundo a diretoria do Santos, foram à Vila Belmiro para recepcionar os atletas. Os jogadores, porém, não foram encontrar a torcida.
“Ainda não podemos comemorar nada. Teremos uma luta contra o São Paulo, que tem vantagem contra nós”, disse o presidente do clube, Marcelo Teixeira.
A torcida santista comemorou com entusiasmo a classificação na praça da Independência, no centro de Santos, e nos arredores da Vila Belmiro, sede da equipe santista. A diretoria do Santos não previa a festa e não havia preparado nada. Foram, então, improvisados alto-falantes e uma quermesse para receber os torcedores que compareceram ao clube.
“”O pessoal só está reclamando da falta de bebida”, disse Alberto de Oliveira Júnior, diretor social do Santos. “Fomos pegos de surpresa”, completou ele.
Quando soube, ainda no vestiário, da comemoração da torcida em Santos, o jogador Claudiomiro ficou emocionado. “Estou arrepiado”, afirmou.
Segundo a Polícia Militar de Santos, não foi registrado nenhum incidente grave durante a celebração da conquista da vaga. A PM escoltou os seis ônibus da caravana de torcedores que havia retornado do estádio do Morumbi até a sede do Santos.
Virada histórica conduz Santos à final após 16 anos
Dodô tira Palmeiras do Estadual com gol aos 45min do segundo tempo
Equipe enfrentará, em partidas nos próximos dois finais de semana, o São Paulo, que joga por dois resultados iguais
De forma dramática, o Santos derrotou o Palmeiras por 3 a 2, de virada, e vai disputar sua primeira decisão do Paulista em 16 anos. Em 1984, com o Estadual ainda jogado em turno e returno, o Santos, na última rodada, jogava pelo empate contra o Corinthians -sagrou-se campeão ao vencer por 1 a 0, gol de Serginho.
Ontem, o gol da vitória, marcado por Dodô, aconteceu aos 45min do segundo tempo. Até 21 minutos antes do fim da partida, o Palmeiras, que jogava por um empate, vencia por 2 a 0.
Os santistas, que eram maioria entre as cerca de 25 mil pessoas que compareceram ontem pela manhã ao estádio do Morumbi, comemoraram a classificação como se fosse um título.
A partir da próxima semana, o time dirigido por Giba começará a decidir o Estadual com o São Paulo, que anteontem à tarde eliminou o Corinthians.
O São Paulo, por ter feito melhor campanha na competição, terá a vantagem de jogar por dois resultados iguais. As duas partidas serão no Morumbi.
O time de Levir Culpi pode se isolar como o maior campeão paulista da década. Em nove edições disputadas no período, o chamado “trio de ferro” dividiu igualmente os títulos.
O Palmeiras conquistou o Estadual mais badalado do país em 93, 94 e 96. A equipe do Morumbi foi campeã em 91, 92 e 98. O Corinthians venceu em 95, 97 e 99.
No cômputo geral, o Corinthians continua sendo o maior campeão da história -ganhou o título 23 vezes. O Palmeiras vem em seguida, com 21 conquistas. O São Paulo está em terceiro, com 18. O Santos tem 15 campeonatos.
Santos e São Paulo não se enfrentam em uma final de Paulista há 20 anos. A última vez que decidiram o Estadual foi em 80, e o time do Morumbi levou a melhor.
As semifinais que terminaram ontem privilegiaram as equipes que priorizaram a competição regional desde o seu início.
O São Paulo foi a segunda melhor equipe da fase de classificação -perdeu para o Corinthians no saldo de gols- e, mais equilibrado, entra na final na condição de favorito ao título.
O Santos, que investiu R$ 20 milhões na contratação de dez jogadores -entre eles Carlos Germano, Rincón, Robert e Valdo-, teve uma trajetória atribulada.
Demitiu o treinador Carlos Alberto Silva no início da segunda fase, após derrota para a Lusa, e cresceu após a entrada de Giba, ex-técnico dos aspirantes.
Desde que Giba foi efetivado, o Santos não perdeu nenhuma partida. Foram oito jogos, seis vitórias e dois empates.
Contra o São Paulo, adversário na final, a equipe conquistou um empate e uma vitória, no jogo que marcou a estréia do treinador.
Já Corinthians e Palmeiras sempre deixaram claro que o objetivo maior do semestre era ganhar a Taça Libertadores -os dois decidem, amanhã, no Morumbi, uma vaga na final do torneio.
Com seus times cansados devido à maratona a que vêm sendo submetidos – o Corinthians jogou 41 vezes na temporada, e o Palmeiras, 40-, os técnicos Oswaldo de Oliveira e Luiz Felipe Scolari pouparam titulares e chegaram a escalar vários atletas juniores em partidas do Paulista.
Agora, abaladas com a eliminação do Estadual, as equipes buscam recuperar o ânimo para chegar à final da Libertadores.
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