02/08/1962 – Santos 2 x 3 Peñarol – Copa Libertadores

Santos 2 x 3 Peñarol

Data: 02/08/1962, quinta-feira, 21h15.
Competição: Copa Libertadores – Final – Jogo de volta
Local: Estádio da Vila Belmiro, em Santos, SP.
Renda: Cr$ 5.418.000,00
Árbitro: Carlos Robles (CHI).
Auxiliares: Sérgio Bustamante e Sérgio Domingo Massaro (ambos do CHI).
Gols: Spencer (14-1), Dorval (18-1), Mengálvio (35-1); Spencer (04-2) e Sasia (05-2). Obs.: Pagão (20-2) fez 3 a 3, resultado que daria o título ao Santos.

SANTOS
Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Pagão, Coutinho e Pepe.
Técnico: Lula

PEÑAROL (URU)
Maidana; Edgardo González, Juan Lezcano, Núber Cano e Omar Caetano; Carranza (Néstor Gonçalves) e Roberto Matosas; Pedro Rocha, José Sasía, Alberto Spencer e Juan Joya.
Técnico: Béla Guttmann



O Santos empatou em 3 a 3 e é campeão da América

O Santos empatando por 3 gols com o Peñarol, tornou-se o campeão da Taça Libertadores da América e, consequentemente, qualificou-se para enfrentar o Benfica, pelo título mundial de clubes.

Em um jogo repleto de irregularidades, várias interrupções, agressões ao juiz e bandeirinha, jogo que terminou quando ainda faltavam 5 minutos.

A culpa de todos os acontecimentos verificados em campo cabe, em grande parte, ao árbitro chileno Carlos Robles, que assustado com a torcida, após receber uma garrafada, teve crise de nervos e não conseguiu mais dirigir a partida, que esteve paralisada durante 72 minutos a primeira vez e 15 minutos em outra ocasião.

O árbitro Robles quis parar a partida; alegou falta de garantia

A partida esteve interrompida por 1 hora e 25 minutos e ameaçada de não prosseguir, porque o árbitro chileno Carlos Robles, depois de receber uma garrafada no pescoço, retirou-se para os vestiários e pretendia dar a partida por encerrada, “por falta de garantias”.

Deixou que o jogo prosseguisse até 00h12 da sexta-feira, depois de mais de uma hora de reunião nos vestiários, com o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, o sr. Raul Colombo, com o presidente da Federação Paulista de Futebol, sr. João Mendonça e com os presidentes do Peñarol e do Santos, sr. Athié Jorge Cury.

Tinha-se como incerto o prosseguimento do jogo: a princípio, pensava-se que o árbitro seria substituído por um dos bandeirinhas e João Etzel Filho, da FPF, entraria no lugar deste; depois parecia mesmo que o jogo não continuaria.

Aos sete minutos já da sexta-feira, rodeado por sete policiais, pálido, trêmulo e quase chorando, o árbitro Carlos Robles entrou em campo sob vaias dos torcedores para, cinco minutos depois, dar prosseguimento ao jogo, que terminou empatado.

No vestiário

Durante o tempo em que permaneceu no seu vestiário, o árbitro sofreu toda sorte de pressão, mas recebeu também a certeza de que a Delegacia de Polícia local lhe daria todas as garantias para prosseguir o jogo. O delegado local, sr. Bolívar Barbate, chegou até a declarar que ele sairia morto do campo, mas o juiz não.

O técnico Lula e o sr. Modesto Roma, ambos do Santos, estiveram também no vestiário e ameaçaram bater no juiz. O sr. Modesto Roma, após sair do vestiário, declarou: “Disse a ele que é ladrão e rato, e que já veio comprado. Saí de lá para não lhe bater na cara”

O técnico Lula, por sua vez, não escondeu que chegou a “apanhar o juiz pelo colarinho”.

Ordem cronológica

Os acontecimentos, por ordem cronológica, foram estes:

22h47 – Num lance na área do Peñarol, o juiz parece ter recebido uma garrafada e cai. Três minutos depois, deixa o campo amparado pelo juiz brasileiro João Etzel Filho e outras pessoas. É conduzido ao vestiário, onde sofre violenta crise de nervos e chora. Diz, pálido, que não pretende continuar o jogo. Soldados e delegados postados nas imediações de onde ocorreu o incidente, dão o seguinte depoimento: o juiz não teria recebido garrafada nenhuma e estava possivelmente encenando, aterrorizado pelo fato de ter de estar diante de uma grande torcida.

Dirigentes do Santos também confirmaram esse depoimento e disseram ainda: ” O juiz teve medo de continuar o jogo porque falhara muito em prejuízo do Santos”. Teria vindo com a intenção deliberada de prejudicar o clube brasileiro.

23h05 – O representante da Federação Paulista de Futebol, presente também ao vestiário, vem à porta e anuncia que o jogo provavelmente prosseguirá: Robles será substituído por Bustamente e João Etzel funcionará como bandeirinha. Informa também que o juiz está profundamente abatido e ameaça chorar.

23h30 – O delegado sai do vestiário e anuncia que dera o juiz a sua palavra de que teria garantias. Disse também que faria um apelo aos torcedores pelos alto-falantes, a fim de que o jogo prosseguisse. Solicitou da imprensa que se retirasse do vestiário e do campo a fim de facilitar a tarefa do árbitro.

23h40 – O técnico Lula entrou no vestiário e saiu cinco minutos depois visivelmente aborrecido. Disse que estava tão furioso com a decisão do juiz de terminar a partida (que daria a vitória ao Peñarol apesar de faltar alguns minutos) e ameaçou agredi-lo e chegou a apanhar-lhe pelo colarinho”.

23h48 – Um dirigente do Peñarol deixou o vestiário e disse: “Nunca vi um juiz com tanta falta de personalidade. Num jogo de transcendência mundial, não poderia ter ocorrido isto. Principalmente perante um público que se portou muito bem. Acho que não ocorreu nada com ele”.

23h50 – Athié Jorge Cury sai revoltado e diz: “Ele veio aqui para dar a vitória ao Peñarol, mas se ele fizer isso não sai daqui vivo”.

00h00 – O presidente da FPF deixa o vestiário, onde ficam apenas o juiz e o presidente da Confederação Sul-Americana e disse: “Parece que o incidente está contornado e o jogo deve prosseguir.” Faz também severas críticas ao árbitro.

00h05 – O delegado entra no vestiário e traz a informação de que o jogo prosseguirá no caso de a imprensa deixar imediatamente os vestiários e não ter acesso ao campo. Isso provoca alguns protestos por parte da imprensa, mas o delegado afirma que o jogo só prosseguirá com essa condição e assim acontece posteriormente.

00h07 – O árbitro, acompanhado do presidente da Confederação Sul-Americana, sai para o campo pálido e trêmulo, protegido por sete policiais.

00h12 – Recomeça a partida, que deu o empate ao Santos.

Outro incidente

O centroavante Sasía, por ocasião do incidente com o árbitro, muniu-se de uma garrafa arremessada pelo público e investiu sobre Coutinho, sendo seguro por policiais.



Fontes:
Jornal Folha de SP
Estadão
Correio da Manhã

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1 comentário em “02/08/1962 – Santos 2 x 3 Peñarol – Copa Libertadores”

  1. Richard Mascara

    Em um depoimento dado no programa do Mílton Neves, Domingo Esportivo, na rádio Bandeirantes, um jogador do Penarol, creio tenha sido o goleiro Maidana, que atuou no Palmeiras no final dos anos 60; atestou que o juiz lhe dissera que o jogo havia terminado antes de seu retorno ao gramado após a confusão. Disse que retornara para evitar uma “tragédia”. Portanto, por conta de sua declaração, o gol de empate anotado por Pepe, durante os minutos que o juiz concedera de acréscimo, “oficialmente” não teria ocorrido, visto que o jogo já terminara.

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