25/06/2003 – Boca Juniors 2 x 0 Santos – Copa Libertadores

Boca Juniors 2 x 0 Santos

Data: 25/06/2003, quarta-feira, 21h40.
Competição: Copa Libertadores – Final – Jogo de ida
Local: Estádio Alberto Jacinto Armando, La Bombonera, em Buenos Aires, Argentina.
Árbitro: Oscar Ruiz (COL)
Cartões amarelos: Ibarra, Schiavi, Cascini, Cagna, Villareal (B); Pereira, Paulo Almeida e André Luís (S).
Cartão vermelho: Reginaldo Araújo (S)
Gols: Delgado (33-1) e (39-2).

BOCA JUNIORS
Abbondanzieri; Ibarra, Schiavi, Burdisso e Rodriguez; Battaglia, Cascini e Cagna (Cangelo); Delgado, Schelotto (Villareal) e Tevéz.
Técnico: Carlos Bianchi

SANTOS
Fábio Costa; Reginaldo Araújo, Pereira (André Luís), Alex e Léo; Paulo Almeida, Renato, Fabiano (Nenê) e Diego; Robinho e Ricardo Oliveira.
Técnico: Emerson Leão



Santos perde invencibilidade e tri da Libertadores fica mais distante

O Santos não conseguiu repetir a mesma façanha de 40 anos atrás, quando conquistou o bicampeonato da Taça Libertadores em pleno La Bombonera, e foi derrotado na noite desta quarta-feira pelo Boca Juniors por 2 a 0, na primeira partida da final.

Agora o clube brasileiro, que até então estava invicto, precisa vencer por três gols de diferença na próxima quarta, no Morumbi, para se tornar o primeiro tricampeão do país. Em caso de vitória por dois gols, a decisão irá para os pênaltis. Ao time argentino, até uma derrota simples serve.

No começo do jogo o Santos mostrou que não sentia a pressão do caldeirão argentino, lotado com os cerca de 60 mil torcedores. Apesar da forte marcação adversária, o time conseguia tocar bem a bola e passava a maior parte do tempo com ela.

A primeira chance de gol, entretanto, foi dos donos da casa. Aos 32min, Schelotto alçou a bola na área, Schiavi chutou de primeira e Fábio Costa conseguiu desviar para escanteio. Após a cobrança do corner, Delgado pegou a bola na esquerda, puxou para o meio e chutou rasteiro. Fábio Costa chegou a tocar na bola, mas não impediu o gol.

Ainda no primeiro tempo o Santos teve a chance de empatar. Robinho ganhou na corrida da defesa argentina, driblou dois zagueiros, mas bateu forte demais quando tentou encobrir o goleiro Abbondanzieri.

No intervalo, o técnico Emerson Leão colocou o zagueiro André Luís no lugar de Pereira, que já tinha um cartão amarelo e insistia em cometer faltas.

Aos 14min, o Boca quase ampliou a vantagem. Delgado cobrou escanteio na pequena área, André Luís furou e Fábio Costa deixou escapar. A bola passou rente ao gol do Santos, mas ninguém do Boca apareceu para marcar.

Como no primeiro tempo, os brasileiros tinham mais a posse de bola, mas não conseguiam criar chances de perigo. O Boca, por sua vez, era mais perigoso e continuava a jogar nos erros santistas.

Aos 38min, Reginaldo Araújo foi expulso corretamente após falta dura em Delgado. Na cobrança da infração, feita pelo próprio atacante argentino, a bola cruzou a área do Santos, quicou na frente de Fábio Costa e entrou.

Meninos da Vila esbarram na experiência de trintões

Delgado, 30, aproveita falhas de Fábio Costa e faz os dois gols do Boca

A experiência falou mais alto. Ontem, na Bombonera, os Meninos da Vila pararam diante dos trintões do Boca Juniors.

Não se saíram bem especialmente na fase inicial e acabaram derrotados pelo time argentino, por 2 a 0, gols marcados, um em cada tempo, pelo atacante Delgado, 30, um dos veteranos do Boca.

Com cinco jogadores com pelo menos 30 anos de idade em campo, a equipe argentina entrou demonstrando mais firmeza. Os santistas tinham dificuldades para se organizar no ataque, como o próprio técnico Emerson Leão reclamava na etapa inicial.

Uma de suas principais esperanças para as finais, o atacante Robinho, 19, foi apático na maior parte do jogo. No primeiro tempo, ensaiou uma pedalada logo no início, deu um chute em cima do goleiro Abbondanzieri e outro para fora, mas foi só. No segundo, fez um bom cruzamento para a área, mas nada além disso.

Seu companheiro Diego, 18, também não foi bem no primeiro tempo. No segundo, participou mais do jogo, mas reconheceu que estava difícil superar a marcação do Boca. “Eles jogam com dez atrás da linha da bola, o que dificulta”, reclamou o atacante.

Mais experientes, os argentinos fizeram o que pretendiam. Exploraram os erros dos brasileiros e evitaram que o jogo corresse solto e os santistas fizessem suas jogadas individuais. De acordo com o Datafolha, a partida ficou mais tempo com a bola parada -48min03s- do que com ela em jogo -46min06.

Ontem, os dois gols do Boca acabaram sendo marcados em falhas do goleiro santista.

Depois de ter feito uma defesa espetacular em chute de Schiavi, que apareceu livre dentro da pequena área, Fábio Costa falhou.

Aos 33min, exatamente no minuto seguinte do lance anterior, o atacante Delgado chutou de fora da área, o goleiro santista pulou atrasado, chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol.

No segundo tempo, o Santos, que não inscreveu um atleta com mais de 30 anos na Libertadores, lançou-se com mais ímpeto ao ataque, especialmente a partir dos 20 minutos. Chegou a criar pelo menos duas chances de gol, mas deixou sua defesa desprotegida.

Foi em um lance de bola parada, no entanto, aos 38min, que o time sofreu o golpe final. Delgado bateu uma falta, a bola passou por todo mundo, inclusive por Alex, Fábio Costa foi mal no lance e deixou ela passar. No final da partida, lamentou o ocorrido. “Os dois gols, na verdade, foram jogadas que o Leão alertou muito a gente”, afirmou o goleiro.

Para complicar, ainda a equipe praiana ainda teve Reginaldo Araújo expulso no segundo tempo. Desfalcado, precisa agora vencer por pelo menos três gols de diferença em casa para erguer a taça e evitar a disputa de pênaltis.

Santos sente pela 1ª vez o gosto do fracasso

Em Buenos Aires, meninos falham, equipe perde aura de imbatível e agora precisa de três gols, em São Paulo, para evitar pênaltis e conquistar a Libertadores após 40 anos

Não deu para virar desta vez.

Como em 1963, o Santos saiu em desvantagem no placar diante do Boca Juniors em La Bombonera na decisão da Libertadores. Porém Diego e Robinho não repetiram Pelé e Coutinho. Pior que isso, Fábio Costa não repetiu Gilmar. Resultado: derrota por 2 a 0.

Caiu ontem na Argentina uma invencibilidade de 12 jogos no principal torneio do continente -se o Santos não perdesse, faria a maior série sem derrota de um time do país ao longo do torneio.

Agora, os santistas precisam vencer por três gols de diferença no jogo de volta, em São Paulo, na quarta-feira para voltar a ganhar a Libertadores após 40 anos. Se a vitória for por dois gols de diferença, a decisão será nos pênaltis.

O Boca Juniors não fez uma grande partida, mas, apoiado por sua torcida e contando com erros dos santistas, conseguiu a mesma vantagem que havia obtido nas semifinais contra o América de Cali. Vencera o time colombiano por 2 a 0 no mesmo estádio.

Fábio Costa foi um dos heróis na campanha santista, especialmente nas oitavas-de-final, quando defendeu três pênaltis. Ontem, porém, foi infeliz nos lances dos dois gols, ambos chutes de longa distância do atacante Delgado.

Robinho voltou a ter atuação apenas razoável. Teve a melhor chance santista na primeira etapa, mas pecou na finalização, sua maior deficiência. Seu parceiro, Diego, mais uma vez se destacou. Mas, caçado em campo (8 das 25 faltas sofridas pelo time), não conseguiu mudar a situação.

As principais peças santistas foram anuladas pelo esquema montado pelo técnico Carlos Bianchi, conhecido como “Mister Libertadores” -já venceu o torneio três vezes. Mesmo em casa, o Boca Juniors não pressionou tanto. Tratou de tirar o espaço dos santistas e, em especial no segundo tempo, apostar nos contra-ataques.

O técnico do Santos, Leão, soltou seu time na segunda etapa. O empate esteve perto, mas o lateral Reginaldo Araújo acabou sendo expulso após entrada violenta -ao menos Elano volta no segundo jogo. Na sequência, saiu o segundo gol, que complicou as aspirações santistas de voltar ao topo do futebol mundial. Ganhando a Libertadores, o Santos pega o Milan no Mundial interclubes, o que também repetiria um confronto épico de 40 anos atrás.

Desde que a Libertadores eliminou a possibilidade de um jogo-desempate para definir o seu campeão, só uma vez um time que perdeu o jogo de ida por dois gols de diferença conseguiu reverter a situação: o Nacional, da Colômbia, na edição de 1989.

O Santos atual tenta ainda repetir o Santos de Pelé, mas agora terá mesmo que repetir outro Santos, o de Giovanni, que na semifinal do Brasileiro de 1995 precisava vencer por três gols de diferença o Fluminense na volta e conseguiu.

Melhor ataque perde a mira em Buenos Aires

O melhor ataque dessa e das últimas 26 edições da Libertadores sucumbiu ontem em Buenos Aires. O Santos, 29 gols em 13 jogos, time do artilheiro do torneio, Ricardo Oliveira (nove), não saiu do zero -o que só havia acontecido uma vez neste campeonato: contra o El Nacional, no Equador, na primeira fase.

O time santista até que tentou, mas não acertou o alvo.

Segundo levantamento do Datafolha, os Meninos da Vila chutaram 19 vezes contra o gol de Abbondanzieri, mas acertaram apenas três vezes. Aproveitamento pífio de 15,7%.

Robinho, Fabiano e Alex foram os únicos que conseguiram acertar o gol do Boca, mas pararam no goleiro rival.

Os santistas não renderam em La Bombonera nem perto do que costumam fazer nos estádios nacionais, mesmo tendo ficado mais tempo com a posse de bola (58%). No Brasileiro, o Santos é o time que mais finaliza, 18,2 chutes a gol, dos quais acerta, em média, 39%.

Preciso, o Boca aproveitou a sua boa pontaria para abrir a vantagem na série final. Foram 12 chutes contra o gol do Santos, oito certos (67%). Desses, cinco de Delgado, que duas vezes venceu Fábio Costa e definiu o placar: 2 a 0.

Lance a lance:

1º tempo

9min – Falta para o Santos perto da entrada da área. Alex bate forte, mas a bola pára na barreira.

16min – Delgado recebe passe diante de Fábio Costa. O juiz dá impedimento.

21min – Delgado bate falta na área do Santos. Renato antecipa e corta de cabeça.

30min – Robinho domina na esquerda do ataque e bate em cima de Abbondanzieri.

32min – É a vez de Fábio Costa trabalhar. Delgado cobra falta pela esquerda, a bola cai no pé de Schiavi, que chuta de primeira. O goleiro do Santos defende.

33min – Delgado recebe na esquerda, corta para o meio e chuta. Fábio Costa não alcança, e o Boca abre o placar.

40min – Fabiano arrisca de fora da área, e Abbondanzieri espalma para escanteio.

47min – Robinho recebe bola na esquerda, se livra de dois rivais e bate para fora.

2º tempo

9min – Em lance de bola parada, Delgado joga na área e Fábio Costa tira de soco.

13min – Delgado bate escanteio na pequena área, a zaga fura e Fábio Costa deixa escapar. Nenhum argentino, porém, consegue finalizar.

16min – O Santos chega também em cobrança de falta. Diego cobra pelo alto, mas a zaga do Boca afasta.

22min – Diego bate falta na entrada da área, o chute desvia na barreira e sai. Após a cobrança do escanteio, bola sobra para Ricardo Oliveira dentro da área, mas o atacante manda para fora.

36min – O Boca volta ao ataque. Delgado cobra falta de longa distância, e Fábio Costa consegue defender.

38min – Em falha de Fábio Costa, o Boca amplia. Delgado bate falta na área. A defesa do Santos não consegue afastar, a bola toca no chão e engana o goleiro santista.

Argentina troca “macaquitos” por reverência

Tradicionalmente ufanista, a rádio Mitre – a AM líder de audiência na Argentina- trocou na transmissão de ontem as brincadeiras típicas da rivalidade entre os dois países (como chamar os brasileiros de “macaquitos”) por reverência ao bicampeão mundial Santos.

O lateral-esquerdo Léo foi tratado como craque. “Que jogador impressionante”, exclamou o comentarista Roberto Leto após uma arrancada do santista.

O narrador, Rodolfo de Paoli, demonstrava preocupação a cada ataque brasileiro. “Ai, ai, ai, lá vem o Santos, pode sair o gol”, dizia.

Até a entrada do reserva Nenê foi precedida de um alerta. “Cuidado, ele é canhoto”, avisou Paoli.

Só a dupla de zagueiros, Pereira e Alex, foi criticada. “Eles nem parecem brasileiros. Como são duros”, opinou Leto. No final, com a vitória garantida, ambos se disseram impressionados com a “violência” do Santos.

Argentina elogia brasileiros, mas crê em conquista

As edições de ontem dos principais jornais argentinos reconheceram a força do Santos, mas apontaram o Boca Juniors como virtual campeão da Taça Libertadores-2003.

“Encheu meia taça” foi a manchete do “Clarín”, principal jornal do país. Para o diário, “os brasileiros jogaram de igual para igual” e o resultado final não refletiu o que aconteceu dentro de campo.

Também ponderado, o “La Nación” afirmou que a influência de La Bombonera foi relativa “por causa da chuva, do nervosismo do público e da atitude ofensiva do Santos”. Sua manchete, porém, é otimista: “Boca tem meia Libertadores”.

Sempre provocativo, o jornal esportivo “Olé” vinculou a atuação apagada de Robinho à presença de Juan Román Riquelme, ex-jogador do Boca, no banco de reservas.

“Rominha”, titulou o jornal, ilustrando a capa com uma foto de Delgado (autor dos dois gols do Boca Juniors) abraçado a Riquelme, que hoje atua pelo Barcelona (Espanha).

O “Olé” também lembrou Diego Maradona, maior ídolo da história do clube argentino, e disse que o jogo deixou “claro que o brasileiro que leva seu nome não chega a seus pés”.



Santos tenta crescer dentro da Bombonera (Em 25/06/2003)

No mais temido alçapão argentino, contra o Boca Juniors e 58 mil torcedores, equipe de Diego e Robinho tenta repetir feito de 40 anos de Pelé e Coutinho na Libertadores

Mais até do que o futebol do adversário, os Meninos da Vila terão de suportar hoje, às 21h40 (de Brasília), em Buenos Aires, o entusiasmo de 58 mil torcedores que se amontoarão no estádio La Bombonera para empurrar o Boca Juniors no jogo em que os argentinos tentarão a todo custo selar a conquista da Libertadores da América e vingar a derrota de 63.

Há 40 anos, o Santos de Pelé e Coutinho se sagrou bicampeão ao fazer 2 a 1 em Buenos Aires, impedindo o Boca de conquistar seu primeiro título sul-americano. À época com uma capacidade superior à atual, o estádio abrigou, segundo dirigentes do clube argentino, mais de 60 mil torcedores.

Nesses 40 anos, cinco títulos da Libertadores nas costas, o Boca só viu o fanatismo crescer. O tradicional bairro de La Boca respirava decisão na tarde de ontem. Ao redor do estádio, dezenas de vendedores de camisas e suvenires disputavam a clientela que antes se aglomerava nas enormes filas.

Para a finalíssima, na próxima quarta-feira, em São Paulo, os chamados barrabravas prometem mandar pelo menos 3.800 pessoas para o Morumbi. O número equivale à quantidade de ingressos que o Santos ofereceu. Segundo o diretor geral do clube, Jorge Luís Bitar, seriam necessários 10 mil entradas, tal a procura, que já se iniciou, segundo ele.

“Se o resultado for normal [uma vitória simples], o Boca põe pelo menos 5.000 em São Paulo. Se o resultado ficar mais difícil para nós [empate ou derrota], aí vai mais gente ainda. Assim é a torcida do Boca”, afirmou Bitar.

Os santistas vão se espremer hoje em dois setores, M e P. Durante o dia de ontem, torcedores uniformizados do Santos ocuparam boa parte dos assentos nos vôos entre São Paulo e Buenos Aires.

Dirigentes do clube da Vila Belmiro chegaram a montar uma espécie de “central” de venda de ingressos em um hotel de Buenos.

Além do significado especial para torcedores de Santos e Boca, a partida tem mais uma dimensão histórica para os argentinos.

Hoje serão comemorados os 25 anos do primeiro título da Argentina em uma Copa do Mundo -a competição aconteceu no próprio país e a final, contra a Holanda, foi realizada no estádio do arqui-rival do Boca, o River Plate.

Para boa parte dos jogadores de Santos e Boca, talvez seja a última chance de conquistar o título da Libertadores. Entre santistas, alguns estão na mira de clubes europeus. Robinho, por exemplo, já despertou o interesse do Barcelona, da Espanha. Diego frequentemente é ligado a clubes italianos. Já o Boca diz ter recebido oferta de US$ 20 milhões pelo novato astro Tévez, que começou a competição sul-americana desprestigiado, no banco de reservas.

Leão quer isolar meninos durante as 36 horas

O técnico do Santos, Emerson Leão, quer que seus jogadores tenham o menor contato possível com os argentinos durante as 36 horas que a equipe vai passar em Buenos Aires.

Além de não divulgar previamente o hotel no qual o time se hospedou na cidade, Leão proibiu qualquer entrevista a jornalistas locais -só depois da partida o acesso aos atletas será liberado.

Para garantir a tranquilidade do elenco, o treinador convenceu a diretoria santista a contratar 15 seguranças. Eles receberam a equipe no aeroporto de Ezeiza, ontem, e só serão dispensados na madrugada de amanhã, quando a delegação retorna ao Brasil.

Tudo faz parte de uma estratégia de Leão para evitar que informações extracampo possam prejudicar o rendimento de seu time. Ontem, por exemplo, o técnico desdenhou da Bombonera, o mitológico estádio do Boca.

“O que tem em La Bombonera que na Vila Belmiro não tem? O Santos é um time de elite e tem que se comportar como tal.”

Para ele, o Boca Juniors tenta valorizar seu estádio. “Eles têm que supervalorizar mesmo o que é deles. Tem que comprar por dois e vender por dez.”

Os jogadores aprovam a tática do comandante. “Não temos parentes na Argentina, e o negócio é ficar lá o mínimo possível. Se eu pudesse, voltava logo depois do jogo”, disse o lateral Léo.

Os atletas também minimizam a suposta força da torcida do Boca. “O jogo será difícil, mas não por causa da torcida. O Boca tem um bom time”, declarou Ricardo Oliveira, que com nove gols é o artilheiro desta Libertadores.

O goleiro Fábio Costa e o zagueiro Alex também preferiram valorizar o rival em vez de tecer elogios ao entusiasmo dos fãs do time mais popular da Argentina.

Em meio à preocupação pela recepção ao Santos, Leão ficou aliviado ao saber que o árbitro colombiano Oscar Ruiz foi escalado para o confronto. “Ele tem um bom currículo”, justificou.

Argentinos usam receita oposta e louvam trintões

Enquanto o Santos aposta em atletas jovens, a estratégia do Boca é oposta. Praticamente quatro anos separam os times no quesito média de idade.

Dos titulares que entram em campo hoje, os brasileiros, com média de 22,8 anos, são bem mais novos do que os adversários argentinos (27,1 anos).

Entre os 25 atletas inscritos pelo Santos na Libertadores, nenhum tem mais de 30 anos. O mais velho, Narciso, 29, se recupera de uma leucemia e nem sequer chegou a ser relacionado para o banco. Entre os titulares, o “veterano” é Léo, 27.

Os expoentes dessa situação são justamente as estrelas Diego, 18, e Robinho, 19.

A situação é oposta no Boca, em que seis titulares têm mais de 30. O mais velho, Cagna, está com 33 e é absoluto no time comandado por Carlos Bianchi.

O treinador também deposita confiança em outros “trintões”. O goleiro Abbondanzieri, o zagueiro Schiavi, os atacantes Delgado e Schelotto, todos com 30, e o volante Cascini, 32, começam jogando.

Hoje há um único “menino” titular do Boca: Tévez, 19, que só foi inscrito na segunda fase. Em princípio, Bianchi relutou em utilizá-lo, mas acabou cedendo à pressão da imprensa.

Estrelas santistas foram invenções de “retranqueiro”

Ironia da bola, a gênese da dupla Diego e Robinho, símbolo do “futebol moleque” que o Santos leva a campo na decisão de hoje, talvez não ocorresse sem o dedo de um dos treinadores brasileiros mais perseguidos pela fama de retranqueiro: Celso Roth.

Foi o gaúcho que lançou, no início de 2002, as duas maiores estrelas santistas.

O primeiro, Diego, logo na estréia do Santos no Rio-São Paulo, no dia 20 de janeiro.

O meia pisou no gramado da Vila Belmiro aos 13min do segundo tempo, substituindo Eduardo Marques, titular que há meses vinha arrastando a condição de promessa santista.

O novato não marcou, levou um cartão amarelo, mas agradou. Ao término do torneio, já era titular da equipe.

Robinho estreou no profissional dois meses depois, no dia 24 de abril, também na Vila. Entrou no lugar de Robert aos 41min do segundo tempo, em uma vitória por 2 a 0 diante do Guarani.

Diferentemente de Diego, porém, continuou no banco ao longo do Rio-São Paulo.

“O Robinho era ainda mais franzino do que hoje. Tínhamos receio de um choque forte”, explica Roth.

Robinho, no entanto, deve ainda mais a outro “retranqueiro”: o ex-volante Zito, hoje dirigente santista.

“No começo de 2002, fui assistir à estréia dos juniores do Santos na Copa São Paulo e relacionei sete jogadores para o profissional. O Diego estava lá. O Robinho não jogou e não entrou na lista”, afirma Roth, que dirige o Atlético-MG no Brasileiro.

“No dia seguinte, o Zito me procurou e pediu para que eu deixasse o Robinho treinar por uma semana. Aceitei e, depois de dois dias, fiquei pasmo, sem entender por que ele não jogava entre os juniores”, completou.

Vítimas do Santos de 1963 acreditam que agora vai

Torcida e dirigentes do clube argentino associam sucesso santista a Pelé

Dirigentes do Boca Juniors que em 1963 viram o Santos sepultar as pretensões do time -à época ainda em busca do primeiro título da Taça Libertadores- dizem estar agora muito mais confiantes em alcançar a quinta conquista continental devido ao que julgam ser o maior “desfalque” santista na decisão deste ano, que começa hoje à noite, em Buenos Aires.

“Antes havia Pelé. Hoje não há mais ele no Santos”, resumiu Oswaldo Bambenutto, principal assessor do presidente do clube argentino, Mauricio Macri.

Aos 12 anos, Bambenutto assistiu das arquibancadas à vitória santista de virada por 2 a 1, classificada por ele como a maior frustração imposta aos torcedores do Boca Juniors por um rival dentro de La Bombonera.

“Chorei bastante naquele fatídico dia”, acrescentou o ex-jogador Horacio “Cholo” Palmieri, 50, na ocasião com 10 anos e atualmente diretor social do clube.

A expectativa da fanática torcida do Boca para a decisão com o Santos é tão grande que os ingressos de arquibancadas acabaram no sábado passado.
Na tarde de ontem, a polícia de Buenos Aires foi obrigada a intervir para conter o tumulto provocado por torcedores que se enfileiravam por mais de um quilômetro nas cercanias do estádio.

Eles disputavam um a um os 12 mil ingressos chamados “populares”, colocados à venda somente ontem e que esgotaram rapidamente. Esse bilhetes dão direito a um lugar no pior setor da arena, o correspondente às áreas de “geral” dos estádios brasileiros.

Vendidas oficialmente a 10 pesos (US$ 3,7) -cada torcedor podia adquirir apenas uma-, as entradas populares eram comercializadas abertamente fora do estádio por até 50 pesos (US$ 18,5), preço que um cambista pediu à reportagem.

Nos últimos três dias, torcedores fizeram vigília noturna nas imediações do La Bombonera, dormindo nas calçadas esperando a abertura das bilheterias nas manhãs seguintes.

Sacrifício

Juan Carlos Mairin, 29, foi um dos que tentaram, mas ontem “morreu na fila”, como ele mesmo definiu. Saiu na manhã de anteontem da província de Córdoba, onde vive, pernoitou na rua, porém antes de chegar a sua vez de comprar uma entrada, as bilheterias já haviam fechado -os ingressos estavam esgotados.

“Jogue contra quem jogue, o Boca sempre será favorito porque nossa torcida sempre é a mais fanática”, afirmou Jorge Luis Bitar, 60, diretor geral do clube. Bitar também esteve na final de 1963 e até hoje lamenta o sentimento “triste” de 40 anos atrás.

“Em primeiro lugar sou Boca Juniors. Depois, argentino”, bradou outro fanático, o comerciante Juan Carlos Zinola, 55, dono do bar e restaurante Carlitos, vizinho do estádio La Bombonera.

Zinola convive há décadas com o cotidiano do clube mais popular da Argentina. Diz ter entre seus clientes o atual técnico do Boca, Carlos Bianchi, o ex-presidente da Argentina Raúl Alfonsín e Diego Armando Maradona, maior ídolo do futebol argentino, ex-jogador e torcedor declarado do Boca.

“Naquela época [1963], o Santos era mais equipe que o Boca Juniors e ainda tinha Pelé. Com ele e mais jogadores como Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pepe, o Santos desequilibrava qualquer jogo. Agora o plantel deles é muito jovem. Tenho muito mais esperança de sair campeão”, afirmou Zinola.

Santos quer deixar de ser a “viúva do Pelé”

Inimigo político de ex-craque, grupo que comanda o clube crê que título continental é senha para “expurgá-lo” da Vila

No dia 10 de dezembro de 1999, em meio a uma das mais bélicas eleições da história do Santos, o jornal “A Tribuna”, o maior da cidade litorânea, publicou em sua primeira página um anúncio pago assinado por “Edson – Pelé”.

No texto, o ex-jogador afirmava que se a chapa “Novos Rumos”, encabeçada por Marcelo Teixeira, vencesse o pleito ele se afastaria do clube que o consagrou.

“(…) De imediato me distanciarei de qualquer ato desta diretoria para não atrapalhá-los em seus propósitos. Acima de tudo eu quero o melhor para o nosso clube”, dizia o trecho final da nota.

Pelé apoiava então a candidatura de José Paulo Fernandes, situacionista que era vice de Samir Abdul-Hak, seu amigo e advogado, que deixava a presidência após cumprir dois mandatos.

Três anos e meio depois, o grupo que derrotou politicamente o maior jogador da história deseja que ele mantenha a ameaça-promessa feita naquele anúncio. Para essas pessoas, que hoje dominam o Conselho Deliberativo do clube, está na hora de o Santos de Pelé passar a ser só Santos.

E não haveria ocasião mais adequada para isso que o título da Libertadores da América, conquistado duas vezes pela equipe (62 e 63) e em ambas colado à figura lendária de Pelé. Voltar a ganhar tão importante competição sem a participação do mito, avaliam, seria ideal para enterrar de vez a gozação imposta pelos adversários por anos a fio de que os santistas não passam de “viúvas do Pelé”.

Embora seja debatido há anos à boca miúda nos bastidores da Vila Belmiro, o “expurgo” do ex-jogador é, quando tratado de forma oficial, um tema-tabu.

“Se o Pelé, por uma iniciativa própria, tem as suas razões para não se aproximar do Santos, aí você vá e pergunte a ele. Nós não temos nenhum tipo de problema com ele. Ninguém quer apagar a imagem do Pelé”, disse o presidente santista, Marcelo Teixeira.

O tom diplomático contrasta com declarações de seus poucos pares da diretoria que topam comentar o assunto sem rodeios.

“O Pelé mina o nosso trabalho diariamente e tenho certeza de que está torcendo contra o Santos nessa final. Na diretoria todos pensam assim, mas muitos não podem dizer. O Santos está na curva da Boa Esperança. Vamos ganhar e acabar com essa história de que dependemos do Pelé”, afirmou o conselheiro Celso Leite, diretor empresarial do clube.

Ele alega que a gestão de Abdul-Hak, acusada de irregularidades pela situação, era na verdade conduzida por Pelé. As contas do mandato 98/99 ainda não foram aprovadas no Conselho Deliberativo do clube. Leite diz ainda que Pelé está por trás de grupos de oposição que hoje criticam a gestão Marcelo Teixeira.

O conselheiro Paulo Silvares, membro do Conselho Fiscal e da comissão criada para reformar o estatuto do clube, vai na mesma linha. “Acho que isso [Santos de Pelé] está superado. Tudo que está sendo feito independe dele. O Santos anda pelas suas próprias pernas, é bem maior que Pelé.”

A participação de Pelé na direção santista começou em 1993, com a eleição de Miguel Kodja Neto. Por divergências com o presidente, ele deixou o clube em 94. Mas contratou uma auditoria que constatou irregularidades na gestão Kodja Neto, que foi afastado -entrou o vice Abdul-Hak.


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