O presidente do Santos, Marcelo Teixeira, anunciou ontem que o atacante Edmundo está liberado para retornar ao Vasco, dono do passe do jogador.
A decisão foi tomada um dia após o atacante criticar a diretoria, por causa de salários. O estopim foram declarações de Edmundo, publicadas ontem na imprensa, de que gostaria de ganhar na loteria para parar de jogar futebol. Na quinta-feira, depois do último treino do ano, ele reclamou de atraso nos vencimentos.
No site oficial do clube, a diretoria do Santos negou ontem que os salários estejam atrasados. “Apenas os vencimentos relativos a direitos de imagem permanecem em aberto”, diz a nota.
Em relação a Edmundo, assinala: “Compreendemos que um atleta profissional que declara publicamente que pretende ganhar na loto para poder encerrar sua carreira não apresenta mais a menor motivação para prosseguir no elenco do Santos Futebol Clube”.
Segundo sua assessoria, Edmundo decidiu que só vai se pronunciar depois de conversar com o presidente do Santos. Não ficou definido quando será o encontro -se durante ou depois do período de festas do final do ano.
A crise entre o atleta e o clube da Vila Belmiro começou com a decisão da diretoria de reduzir os salários dos jogadores. A medida atingiria principalmente as estrelas.
O atacante foi emprestado pelo Vasco ao Santos até junho de 2001, exatamente para contornar divergências com a diretoria do clube de São Januário e Romário.
Os vencimentos de Edmundo no Santos, incluindo os direitos de imagem, são de cerca de R$ 400 mil mensais, o que representa mais de 10% da folha de pagamento de todo o time, estimada em R$ 3,5 milhões.
Em entrevista à Agência Folha na quarta-feira, o dirigente Marcelo Teixeira disse que aqueles que não concordassem com a redução de salários teriam os passes colocados em disponibilidade. Edmundo, o goleiro Carlos Germano e meio-campo Valdo já tinham sido chamados para discutir o assunto.
No retorno das férias, o técnico Geninho também não poderá contar com Valdo. Ele foi liberado ontem do cumprimento do contrato, depois de fechar acordo com a diretoria.
Antes de Edmundo e Valdo, o colombiano Rincón, que ganha cerca de R$ 350 mil mensais, tinha sido liberado para acertar sua transferência para outra equipe.
O Santos volta a jogar no dia 14 de janeiro, no Morumbi, em partida beneficente contra o São Paulo. O amistoso será preparatório para o retorno oficial à temporada, contra o Flamengo, no dia 18, pelo Torneio Rio-São Paulo.
Confira a íntegra do comunicado oficial no site do Santos:
“A diretoria do Santos Futebol Clube vem a público manifestar seu mais profundo descontentamento com as declarações proferidas pelo atleta Edmundo e divulgadas pela Imprensa. Todos os atletas estavam cientes, comunicados que foram por esta diretoria, que em caso de não classificação do clube às oitavas-de-final da Copa João Havelange, o Santos encontraria sérias dificuldades financeiras. Isso deve-se ao fato de a diretoria anterior ter antecipado as cotas referentes à fase inicial do certame. Ou seja, o clube só teria direito a novos valores em caso de classificação à etapa seguinte da competição. Ainda assim, esta diretoria empreendeu um grande esforço e vem mantendo em dia os pagamentos dos salários dos jogadores, bem como os respectivos encargos previdenciários. Apenas os vencimentos relativos a direitos de imagem permancem em aberto.
Em nossa avaliação, aliás, como o Santos não se apresenta à mídia, devido à desclassificação da Copa João Havelange, parte deste ônus deve também ser assumido pelo elenco. No caso específico de Edmundo, compreendemos que um atleta profissional que declara publicamente que pretende ganhar na loto para poder encerrar sua carreira, não apresenta mais a menor motivação para prosseguir no elenco do Santos Futebol Clube. Nossa agremiação, de história gloriosa e presente pujante, quer contar somente com jogadores que estejam engajados nos mais nobres objetivos do clube: vencer e conquistar títulos. Dessa forma, comunicamos oficialmente que o atleta Edmundo, a partir desta data, não mais integra o elenco profissional do Santos Futebol Clube e será colocado em disponibilidade para retornar ao clube detentor de seu passe.”
Para manter Edmundo, Santos exige desculpas (Em 28/12/2000)
Atleta também terá de aceitar ganhar menos para jogar Paulista-2001
Além de um pedido público de desculpas, o atacante Edmundo terá de se enquadrar na nova política salarial do Santos e aceitar a redução dos seus vencimentos caso a diretoria volte atrás e decida manter o jogador no clube.
Dispensado porque cobrou publicamente o pagamento de remuneração em atraso, Edmundo não pretende aceitar a proposta de redução de salários que vem sendo apresentada às principais estrelas do time.
Essa proposta implica basicamente na suspensão do pagamento dos direitos de imagem, um dos componentes dos vencimentos dos atletas -os outros são o salário registrado em carteira e os prêmios por vitórias e títulos.
O presidente santista, Marcelo Teixeira, nega a possibilidade de rever sua posição de demitir Edmundo. Mas Eduardo José Farah, presidente da Federação Paulista de Futebol, quer ver o atacante disputando o Paulista-2001. Por isso, tenta demover Teixeira da decisão de dispensar o atleta.
Na contratação de Edmundo por empréstimo, a federação contribuiu com US$ 500 mil. O Santos pagou outros US$ 500 mil e, segundo Teixeira, deve ao Vasco, dono do passe do atleta, mais duas parcelas de US$ 100 mil, que vencem em fevereiro e março.
Edmundo tem contrato até junho de 2001 e ganha cerca de R$ 400 mil mensais, entre salário e direitos de imagem. Ele está no Rio, onde passa os feriados de final de ano, e ainda não teria sido oficialmente informado da dispensa. A reapresentação dos jogadores está marcada para o dia 3.
O Vasco, dono do passe de Edmundo, não reconhece a dispensa do atleta pelo Santos, mas admite envolvê-lo numa negociação com o Atlético de Madrid, para garantir a contratação do meia Juninho.
Além de Edmundo, a política de redução salarial deverá levar outros jogadores a deixar o Santos, além de Rincón, liberado para negociar com outras equipes, e Valdo, que já acertou sua saída.
Um deles poderá ser o goleiro Carlos Germano, que ganha R$ 180 mil mensais. Teixeira afirmou que um dos goleiros não permanecerá. O reserva Fábio Costa é pretendido por outras equipes. Germano interessa à Lusa, mas o clube paulistano não admite pagar o que ele recebe no Santos.
Os atacantes Caio e Dodô são outros dois cujos salários a diretoria pretende diminuir. Eles têm chances de serem incluídos, junto com outros atletas, numa troca por empréstimo com o Atlético-MG, do qual o Santos quer o atacante Guilherme e o meia Ramón.
Os laterais reservas Dutra e Rubens Cardoso também serão objeto de troca com outros clubes. Cardoso é pretendido por várias equipes, como Lusa, Flamengo, Fluminense e Atlético-MG.
O gerente de futebol Luiz Henrique de Menezes disse ontem que a escassez de dinheiro dos clubes está gerando dificuldade para a concretização dos negócios.
“Os preços estão altíssimos. Os de empréstimo, absurdos. Mas, uma hora, o mercado vai ter de se acomodar. Só quando um começar a ceder é que as negociações vão acontecer”, afirmou.
Apesar disso, o Santos pode anunciar duas contratações -o volante Vágner, do Bahia, e o lateral Luizinho, do Atlético-PR.
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