Botafogo 2 x 1 Santos
Data: 14/12/1995, quinta-feira.
Competição: Campeonato Brasileiro – Final – Jogo de ida
Local: Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, RJ.
Público: 53.668 pagantes
Renda: R$ 698.805,00
Árbitro: Sidrack Marinho (SE)
Cartões amarelos: Jamir e Wilson Gottardo (B); Gallo (S).
Gols: Wilson Gottardo (18-1), Giovanni (38-1) e Túlio (44-1).
BOTAFOGO
Wágner; Wilson Goiano, Wilson Gottardo, Gonçalves e André Silva (Iranildo); Leandro, Jamir, Beto e Sérgio Manoel; Donizete (Moisés) e Túlio.
Técnico: Paulo Autuori
SANTOS
Edinho; Vágner, Marquinhos Capixaba, Narciso e Marcos Paulo; Gallo, Carlinhos, Marcelo Passos e Giovanni; Jamelli (Macedo) e Robert (Camanducaia).
Técnico: Cabralzinho
Botafogo derrota o Santos e joga por empate domingo no Pacaembu
A marcação montada pelo técnico Paulo Autuori anulou o Santos e levou o Botafogo à vitória por 2 a 1 no primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro, ontem à noite, no Maracanã.
Para ser campeão, o Santos precisa vencer o segundo jogo, domingo, no Pacaembu, por qualquer vantagem.
O time santista não terá, porém, os meias Gallo e Vágner, que vão cumprir suspensão.
Gallo levou o terceiro cartão amarelo. Vágner foi condenado ontem pelo Tribunal Especial da CBF a três jogos de suspensão.
A diretoria do Santos entra hoje com recurso. Se conseguir liminar, Vágner poderá ser escalado.
Santos e Botafogo, os supertimes da década de 60, buscam o primeiro título do Brasileiro, disputado desde 1971.
A partida foi atrasada dez minutos por causa da chuva, que durou a maior parte do jogo.
Cabralzinho, técnico do Santos, provocou no vestiário a primeira surpresa da decisão, ao escalar Vágner na lateral direita.
A decisão mostrou-se errada. O Santos tinha buracos no meio-campo e nas laterais.
O Botafogo foi melhor o jogo todo e poderia ter vencido por vantagem maior. A 1min, fez sua jogada característica, pela direita, com o atacante Donizete. A defesa do Santos cedeu escanteio.
Aos 5min, de novo pela direita, o Botafogo quase marcou. O meia Beto cruzou e Donizete, solto, cabeceou rente à trave.
No campo do Botafogo, os atacantes santistas não conseguiam trocar passes.
O volante Jamir acompanhava Giovanni. Autuori preferia Leandro, mas deu a ele outra função porque o jogador tinha dois cartões amarelos.
Aos 10min, 13min e 17min, o Botafogo fez mais três jogadas pela direita. Numa delas, Túlio conseguiu dominar a bola com o peito, mas chutou alto demais.
O domínio do Botafogo virou gol aos 18min. Num escanteio da direita, o zagueiro Gottardo entrou por trás e cabeceou para o chão. A bola entrou junto à trave direita.
Após o gol, o Botafogo continuou sendo o time mais perigoso.
O Santos marcou numa falha dupla do Botafogo. Donizete perdeu a bola na defesa. Gallo tomou-a, tocou para Marcelo Passos, que passou a Giovanni.
Os zagueiros pediram impedimento, mas o lateral André Silva estava recuado. Giovanni, aos 38min, avançou e marcou.
Aos 42min, Donizete sofreu falta. O juiz não viu que a bola ficaria com Túlio, só na área, e marcou falta. Sérgio Manoel bateu, a bola tocou na barreira e saiu.
No escanteio, Giovanni cabeceou para trás. Túlio, quase na linha do gol, fez 2 a 1, aos 44min.
Túlio, que fez seu 100º jogo pelo Botafogo, comemorou o gol socando o ar como Pelé.
No segundo tempo, antes de 1min, o Botafogo fez nova jogada pela direita, com Donizete, e Beto perdeu um gol dentro da pequena área, com Edinho fora do lance.
Aos 11min, quase o Santos marca em outro erro do Botafogo. Jamir errou passe. Robert avançou e cruzou. Jamelli entrou por trás da defesa e chutou no travessão.
Aos 18min, Túlio cabeceou livre e Edinho impediu o que seria o terceiro gol. O Botafogo ainda perdeu mais quatro chances.
No final, Jamelli e Donizete foram substituídos por contusão.
Giovanni esperava marcação maior
O meia-atacante Giovanni disse ontem à Folha que esperava sofrer uma marcação mais forte do que a recebida no primeiro jogo da final.
Ele citou como exemplo o lance do gol santista, quando recebeu, na entrada da área, um passe de Marcelo Passos sem ser acompanhado por nenhum marcador.
O jogador afirmou também que, no lance do segundo gol do Botafogo, marcado por Túlio, a bola praticamente só bateu em seu corpo antes de chegar ao atacante adversário. “Toquei na bola mais por reflexo”, disse.
Para o principal jogador santista, o Botafogo será um adversário mais difícil do que foi o Fluminense, batido por 5 a 2 no domingo passado no Pacaembu.
“O Botafogo é mais forte”, disse. “É um time mais técnico e muito organizado, tanto na defesa quanto no ataque.”
“Além de organizado, o Botafogo tem jogadores experientes”, acrescentou o volante reserva Pintado. “Mas nosso pensamento é ganhar o título, custe o que custar”, afirmou o jogador, provável substituto de Gallo no domingo.
“O Botafogo é bem superior e merece respeito, mas, em São Paulo, vai prevalecer o nosso time”, disse o zagueiro Ronaldo.
Para o atacante Jamelli, é impossível comparar o Botafogo e o Fluminense. “São times diferentes e as circunstâncias também são diferentes.”
Segundo ele, o Santos não deve mudar seu estilo de jogo na decisão de domingo. “Temos uma tática própria que precisa ser mantida.”
Gottardo faz gol e marca Giovanni
O zagueiro botafoguense Wilson Gottardo foi o principal marcador do santista Giovanni ontem no Maracanã, por dois motivos.
Primeiro porque, contundido no joelho esquerdo, Giovanni jogou mais como atacante do que como meia que arma as jogadas.
O outro motivo foi a inversão dos lados em que os meias defensivos Jamir e Leandro jogam. Normalmente, Leandro se posiciona à direita -marcaria Giovanni, pela esquerda do ataque santista.
Como Leandro tinha dois cartões amarelos e poderia receber mais um e não jogar domingo, o técnico Autuori decidiu que no lado de Giovanni ficaria Jamir.
Com o santista adiantado, seu grande duelo foi com Gottardo. O zagueiro do Botafogo ganhou quase todas as bolas e ainda marcou.
No gol que marcou, Giovanni estava sem marcação -o Botafogo perdeu a bola.
Cabralzinho põe Vágner na lateral
O técnico Cabralzinho surpreendeu ao modificar, mais uma vez, o esquema tático do Santos, improvisando o meia-ofensivo Vágner na lateral direita.
Na prática, o time começou o jogo com apenas três zagueiros (Marquinhos Capixaba, Narciso e Marcos Paulo, marcando Donizete e Túlio) e dois alas (Vágner, pela direita, e Robert, pela esquerda).
Mesmo isolado entre os zagueiros Gottardo e Gonçalves, Giovanni ainda conseguir marcar aos 38min do primeiro tempo.
A tática santista teria dado resultado na etapa inicial se a equipe não tivesse tomado dois gols, após cobranças de escanteios.
Antes deste jogo, o Santos, sob o comando de Cabralzinho, só havia levado um gol originado por um escanteio no Brasileiro -contra o Fluminense, também no Maracanã. “Tomar gol de escanteio é falta de atenção”, afirmou Cabralzinho.
Agora, Botafogo joga pelo empate
Com a vitória de ontem, no Maracanã, o Botafogo vai poder jogar pelo empate, domingo às 17h, no Pacaembu. O Santos, para ser campeão, precisa vencer por qualquer marcador.
O regulamento do Campeonato Brasileiro prevê uma vantagem ao time que tiver melhor campanha em toda a competição. Até as semifinais, o Santos conseguiu 49 pontos e o Botafogo acabou com 47.
Para efeito de contagem, os dois jogos da final podem ser compreendidos como um só, de 180 minutos. Nesse “superjogo”, quem fizer mais gols vence. Se houver empate, o Santos é campeão.
Em nenhuma hipótese, haverá prorrogação ou decisão através de cobranças de pênaltis.
Ontem, a Rede Globo fez uma oferta aos clubes para transferir o jogo de domingo para as 19h. A Confederação Brasileira de Futebol, que organiza a competição, vetou a negociação.
No domingo à noite, em São Paulo, a CBF vai promover a festa de entrega de um prêmio para os destaques da competição.
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, deve comandar a cerimônia. O presidente da Fifa, João Havelange, também deverá comparecer.
Botafogo quer comprar 2º jogo
A direção do Botafogo fez ontem uma proposta para realizar o jogo de domingo, que decide o Campeonato Brasileiro, no Rio de Janeiro.
O presidente do clube, Carlos Augusto Montenegro, ofereceu US$ 850 mil para o Santos em troca do segundo jogo no Maracanã.
O Santos, por ter feito melhor campanha, tem o mando de campo da partida decisiva, que será no Pacaembu, em São Paulo.
Mais tarde, Montenegro “melhorou” a oferta. Além dos US$ 850 mil, propôs “zerar” os cartões na final (o Santos tem nove jogadores com dois amarelos).
O técnico Cabralzinho não quis comentar o assunto. “É um problema administrativo”, declarou.
Clodoaldo Tavares Santana, vice-presidente do Santos, ficou indignado com a proposta botafoguense. “Só pode ser brincadeira de mau-gosto”, afirmou. “Se for assim, nós oferecemos o dobro para jogar as duas em São Paulo.”
Segundo ele, o Santos jamais abriria mão de um direito adquirido. “Querem desestabilizar o ambiente, mas não vão conseguir”, disse ele.
Jogadores do Botafogo protestam contra torcida
Jogadores do Botafogo se revoltaram com a torcida do clube após a vitória de 2 a 1 anteontem contra o Santos, no Maracanã.
Enquanto a torcida santista, minoritária, ficou no estádio mais de 5 minutos depois do fim do jogo gritando “é campeão”, os botafoguenses saíram do estádio.
O zagueiro Gonçalves se dirigiu à torcida, agitando os braços. “Assim não dá”, afirmou. “Se a torcida não grita, azar”, disse, irritado, o zagueiro Wilson Gottardo. “Vamos lutar sozinhos em São Paulo.” “A galera calada passa intranquilidade para nós”, reclamou o meia Beto.
O preparador físico Ronaldo Torres berrava: “Nem parece que o time ganhou. Com essa torcida, não dá. Vamos para o Pacaembu conquistar o título e comemorar na frente de outros torcedores.”
A apatia da torcida botafoguense se deve, em boa parte, ao temor que o Santos repita domingo a goleada obtida no domingo passado contra o Fluminense.
No vestiário, a maioria da equipe, em vez de comemorar, estava abatida, cabisbaixa e calada.
“Chegamos ao fim do campeonato como no começo: com apenas nós mesmos acreditando em nós”, disse o técnico Paulo Autuori.
Depois da vitória por 4 a 1 sobre o Santos, os jogadores do Fluminense comemoraram a goleada até as 3h numa churrascaria.
Os do Botafogo não fizeram festa. Ontem, às 17h, já corriam no estádio Caio Martins. Em seguida iriam para a concentração.
Autuori e o atacante Túlio, contentes, contrastavam com o silêncio no vestiário. Túlio prometeu fazer dois gols no domingo: o “Volta Olímpica” e o “Peixe Morto”, referência ao símbolo do Santos, o peixe.
Para conquistar pela primeira vez o Brasileiro, o Botafogo precisa vencer ou empatar com o Santos no domingo.
Túlio disse que, se for preciso, voltará à defesa para impedir um triunfo santista. “Vou jogar de todo jeito, de beque, de bico, chutando a bola para o mato.”
“Vai ser que nem pelada: faltando 5 minutos, ninguém tem posição, vai ser bola para todo lado”, disse Túlio.
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